A arte de (do) ser verdadeiro
Eu já conhecia superficialmente a história de Van Gogh.
Mas assistindo o filme sobre a sua vida, na Netflix, não pude deixar de me inspirar... e me sentir um pouco ele.
Não me refiro à sua genialidade, nem às suas excentricidades, mas literalmente à sua alma.
Suas pinturas já diziam muito sobre ela, mas suas cartas foram derradeiras para me sentir como.
Van Gogh era simples, sem muito estudo, com dificuldades para ser normal e se estabelecer na vida... ou seja, ele era muito profundo e sensível para caber nos moldes comuns.
Não é que a vida seja pesada ou horrível a pessoas como nós... Mas somos nós que somos almas muito frágeis e delicadas para um mundo tão normalmente bruto... Somos nós que estamos em ambiente "errado".
Ao meu ver, esse homem era um autista. Seu comportamento evidencia muito esse transtorno. É bastante paradoxal dizer que autistas são sujeitos frios ou indiferentes, pois dentro deles há um calor e uma intensidade incomparáveis, em que são expressos em seu foco de interesse.
Para felicidade do mundo, seu foco foi a pintura. Para felicidade do mundo, sua paixão e a sua coragem em fazer aquilo que mais tinha dom, nos presenteou com sua beleza interna.
Ninguém precisa ser gênio para fazer coisas belas ou revolucionárias, mas penso que a genialidade nasce dessa coragem "tudo ou nada" de se entregar ao que mais se ama. Todos os gênios se entregaram.
É exatamente por isso que sempre falo de nos guiar pelo Coração. São os sentimentos dele que nos direcionam ao caminho verdadeiro de nosso propósito maior de vida.
Mas em geral, as pessoas ignoram a voz do Coração e seguem sempre a razão ou seus instintos inferiores.
Não importa pelo que temos sentimentos, são eles que nos guiam em direção a nossa essência pura. Porém percebo que a maioria não sabe mais sentir - a não ser suas emoções mais desequilibradas, originadas do medo e do desejo.
Creio que Van Gogh sentia intensamente as duas coisas. E devido a esse conflito, morreu de forma trágica.
A dificuldade daquele que sente muito intensamente as coisas, é a de ter rédeas sobre as emoções. Eu digo isso por experiência própria, já que minhas emoções sempre foram à flor da pele.
Exatamente por isso percebi que o que tem domínio sobre elas, e as direciona de forma construtiva, são os sentimentos... sentimentos, esses, vindos do Coração.
É esse mesmo Coração que tem domínio sobre os pensamentos. O sentimento do Coração seria a contemplação que faz o pêndulo mental parar gradualmente a oscilar, de um lado ao outro, até (quem sabe) parar de vez.
Contudo, estamos o tempo todo fugindo ou ignorando a ele... ou porque não discernimos a ele, ou porque temos medo dele.
A vantagem de ser extremamente sensível está na oportunidade de ultrapassar essa esfera do conflito mental. Muitas vezes, por sentirmos demasiadamente, atingimos um nível onde saímos do controle da mente e passamos a "pensar" e a "enxergar" com o Coração.
Muitos não conseguem e se matam... outros alcançam uma Consciência mais elevada. É isso o que estudiosos chamam de "estados alterados de consciência".
Minha diferença com Van Gogh é que através de traumas e mudanças radicais de vida, eu consigo galgar outros patamares de consciência, enxergando a dor com uma visão mais ampla. Como muitos mestres já diziam, nós subimos a montanha e nos distanciamos dos problemas. É de cima, inclusive, que enxergamos que os problemas na verdade não são problemas, mas degraus de elevação.
Esse gênio, porém, expressava seu "estado alterado de consciência" em seus quadros, como se fossem fotografias de sua alma.
Minha semelhança com ele é a sua honestidade e paixão pelo que há de mais verdadeiro dentro de nós. Ele era um "fracassado" aos olhos da sociedade, detestado por muitos, um "ninguém" como ele mesmo dizia... mas totalmente fiel à sua chama. É o que eu mesma sinto de mim.
Indivíduos como nós perdemos coisas e pessoas... somos eternos "perdedores" daquilo que o mundo mais valoriza... simplesmente porque somos nós. Não damos vantagens, regalias, oportunidades, status a ninguém... damos apenas a nossa verdade e sentimentos.
Somente depois que morremos é que o mundo começa a nos notar. Van Gogh era um "zé ninguém" e virou um gênio da arte. Eu sou uma "zé ninguém" e talvez - após a minha morte - não chegue a me tornar gênio, mas uma rara pessoa que seguiu o seu Coração até o fim.
É irônico, mas a sociedade me vê como medíocre e fracassada... só que em mim, eu me sinto como um alguém que ultrapassou a mentalidade consensual... um alguém que atingiu as fronteiras do limite comum... e com o pouco que fiz, já fiz história.
Não me importa ser como Van Gogh, que não foi reconhecido em seu tempo, que vendeu apenas um quadro, estando ele vivo. O que importa a mim é deixar um exemplo de vida às pessoas, mesmo não ganhando nada dessa vida e nem das pessoas.
Eu vim a esse mundo para sensibilizar os corações endurecidos... eu vim a esse mundo para revolucionar comportamentos...
E não para ser mais um alguém bem-sucedido na vida, cheio de seguranças falsas e sem brilho autêntico algum. Eu vim deixar uma marca.
Antes ser Van Gogh, com amor, do que fotos de "felicidade" facebookianas e suas efemeridades.
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