A Felicidade é você
A inspiração hoje bateu na minha porta.
Ela só não comunicou a minha mente o que queria falar...
Foi, então, que voltei pra dentro e comecei a captar o sentimento em mim.
Um filme desde a infância passou na minha tela mental, como se eu procurasse um registro de autêntica felicidade na minha vida.
Vieram alguns poucos momentos agradáveis e prazerosos, mas nenhum que eu dissesse: "Nossa... como fui feliz!".
Quando digo poucos, é porque dá para contar nos dedos de uma mão. Parece ser exagero ou um alto grau de exigência... mas não é isso. Lembranças boas é o que eu menos tenho do meu passado.
Talvez se eu sentisse e enxergasse a vida como os outros, sentiria mais satisfação em coisas banais... talvez valorizasse mais os momentos que vivi. Porém meu olhar sempre foi distante, como se sempre faltasse algo em tudo.
Essa superficialidade que eu via desde nova foi o que me ajudou a vivenciar o verdadeiro. Não encontrando nada de genuíno fora, mergulhei fundo em mim... nos meus sentimentos. A partir disso, passei a ver a essência pura por trás das coisas, eventualmente... principalmente das mais simples e sem vaidade.
Eu não tinha muita consciência, mas era fato que eu sentia tudo muito mecânico e artificial nas pessoas. Era como se me jogassem num palco de teatro e me forçassem a interpretar um papel - do qual eu interpretava muito mal.
No teatro éramos obrigados a "aparecer", não importasse como. Quanto mais elaborado fosse o personagem, mais aplausos e fama obtínhamos.
Mas eu não conseguia. Era extremamente desgastante a mim interpretar. E por mais que eu tentasse, não passava de uma reles figurante.
Foram raríssimas as vezes em que me destaquei. Contudo, nessas horas em que me destacava, era porque curiosamente eu agia mais naturalmente e os colegas de palco eram generosos e acolhedores comigo. Geralmente nesse teatro, a peça era menos exigente, não pedindo status, glamour, experiência ou aquisições de todos os tipos.
Mas de resto, fui formando um papel "curinga", em que a minha interpretação era só a de ser cordial e quase invisível.
Olhando para o meu passado, os momentos menos tristes e enfadonhos foram quando eu era mais natural... Quando eu não precisava aparecer é que eu mais aparecia.
Mas o palco do mundo é cheio de personagens suntuosos, cheios de falas elaboradas, poses, tipos, espertezas, cálculos... E quando atuamos com esses personagens, viramos "escadas" ou meros preenchedores de vazios.
Talvez por eu enxergar tudo isso, desde muito nova, eu não sentia a alegria e o prazer que as pessoas sentiam. Pra mim, tudo era uma competição para ver quem chamava mais a atenção... e isso era um porre...
Fui perceber realmente o que era felicidade e amor, quando a Consciência despertou em mim. Os insights que vinham, ainda que em desenvolvimento e depuração, eram eu de verdade.
Uma mistura de sentimentos e lucidez me tomou por inteira, e pela primeira vez senti o que era SER FELIZ.
É bem verdade que eu já havia sentido êxtases espirituais. Sabia o que era ser tomada pelo Amor e pela devoção. Mas pra mim, isso ainda não era ser feliz, pois ficou nítido que felicidade nada tinha a ver com eventos, circunstâncias, estados ou acontecimentos... Felicidade era simplesmente ACORDAR.
Sim... acordar para quem você é...
Mas o que você é?
Por mais que eu diga "Amor", "Consciência", "Sabedoria", "Paz", não vou conseguir comunicar, pois a partir do momento em que nomeamos isso que somos, perde-se a essência disso que somos.
Mas uma coisa eu posso dizer: felicidade é ser Você, não importa o que seja Você (de verdade). Enquanto ainda formos artificiais, condicionados, programados, padronizados, não seremos felizes... enquanto formos escravos de nossos medos e desejos, não seremos felizes... enquanto formos exclusivamente razão-instinto, não seremos felizes.
No meu caso, a descoberta disso que sou, é gradual, portanto a felicidade é idem. Percebo que quanto mais nos enraizamos nesse centro dentro de nós, menos as tempestades nos atingem. Chacoalhamos conforme os ventos, mas continuamos firmes e fortes nesse ser.
A mim é um pouco mais fácil distinguir o que seja verdadeiro daquilo que é falso... do que seja felicidade daquilo que é somente prazer, porque não há apego de coisas passadas. Não há comparação.
É como se a felicidade a mim fosse um contínuo crescer, no qual tudo o que passou não poderá nunca superar a felicidade do momento presente... ou seja... o passado será sempre menos e o futuro sempre mais, naturalmente.
Não importa se eventos difíceis surgirem, porque a minha verdade estará cada vez mais fortalecida. Pois como disse, felicidade é SER, e não, situações ou acontecimentos agradáveis. O prazer e a dor são inevitáveis e não devemos negar, mas, sim, transcender ao Ser, para não sermos controlados por eles.
Paradoxalmente, cada vez que somos mais aquilo que somos de verdade, mais nos destacamos do meio, dependendo do propósito de vida de cada um. Saímos da massa, do rebanho, do piloto automático, e nossas qualidades naturais ou dons vão emergindo em nós.
Não é nada forçado, com o intuito egoico de querer aparecer. Essas qualidades vão surgindo conforme vamos nos descobrindo e assumindo esse ser.
Quanto mais conscientes ou despertos, mais a Vida se utiliza de nossos talentos para o bem maior.
Enfim, o que esse insight quis dizer foi que... quanto mais nos aprofundamos e nos espiritualizamos, não há escapatória ou saída... o sentido é único, rumo à felicidade real.
Pode parecer que não estamos avançando, mas isso é outra ilusão da mente. O processo, depois de iniciado, parece agir sozinho, sem interferência de nosso esforço. A única ação necessária é a atenção ou a observação neutra, pois o resto parece acontecer espontaneamente.
Talvez a mente consiga apenas desacelerar o processo, mas após a iniciação espiritual, a Consciência e a Vida nos empurram sempre para frente, com ou sem dor.
Pode parecer absurdo, mas mesmo que eu passe por dificuldades, obstáculos, perdas, danos, faltas, minha felicidade progressiva não muda. Isso porque eu não comparo o meu momento presente com o meu passado, pois tudo o que eu viver daqui pra frente será sempre melhor e mais verdadeiro.
Muitos podem achar que é uma desvantagem não ter tido tantos momentos de prazer e satisfação na vida, mas a mim é uma enorme vantagem, pois me facilita o desapego ao passado, e me faz valorizar o presente, confiando no futuro.
Felicidade é ser... felicidade é sentir o verdadeiro.
Esse foi o recado da Inspiração que bateu hoje na minha porta.
Ela nada precisou falar, pois eu apenas senti... e aconteceu.
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