Ser é confiar


A baixa autoestima, a insegurança, o medo... tudo isso é derivado de uma identificação com a mente e as emoções. Provém exclusivamente da comparação - com as pessoas, com o passado e com suas expectativas.

Mas para deixar de ser mente (e comparar) é preciso saber o que é a "não-mente". 

E ao contrário do que muitos possam pensar, ser "não-mente" não é deixar de utilizar a mente... mas apenas sentir e compreender que você está muito além dela.

Contudo, como deixar de ser a mente se tudo o que conhecemos é a mente? As pessoas perderam tanto o contato com a alma, que já acham não a conhecer (ou ser).

Só que não é que elas não a conhecem, elas somente a ignoram e passam a acreditar que a sua voz é uma ilusão ou uma fantasia... um devaneio... um autoengano. Porém ela sempre está presente.

O domínio da razão faz as pessoas sentirem-se inseguras, vulneráveis e diminuídas perante os outros. Faz, inclusive, terem medo do Coração e da sua Vontade. Pois a razão quer unir o útil ao agradável e rejeitar o verdadeiro, simplesmente porque o verdadeiro nunca foi vivenciado na sua plenitude e profundidade. Ou seja, o verdadeiro é desconhecido.

Somente quando acessamos os sentimentos e nos entregamos, começamos a sentir segurança - mesmo inseguros. Parece contraditório, mas o que ocorre é que a insegurança já não é um empecilho às ações. Isso porque a segurança já não está mais relacionada ao personagem, ao ego, à mente, ou às circunstâncias, mas sim, ao que você É.

Como então deixar de ser mente, sem se utilizar de esforço?

Não existe uma técnica, mas uma profunda rendição ao que é.

Render-se ao que é, não é se conformar com o que é. Não é achar que está certo o seu estado e situação, mas apenas confiar no fluxo natural do processo.

É através dessa confiança que alcançamos uma consciência maior, para então agirmos conforme suas diretrizes. Portanto, rendição não é passividade ou resignação, mas aceitação que gera ação.

Toda essa constatação eu tiro do que vivencio... 

Existe um nível espiritual em que o indivíduo alcança, no qual mesmo que a identificação com a mente aconteça, a Consciência em nós se manifesta pelas "brechas". Sua presença se aproveita das situações.

Seria como se mesmos inconscientes, algo além do "eu" nos direcionasse a algum propósito e fizesse de nossas ações imperfeitas, uma ação necessária. 

Nesse "estágio", já somos literalmente instrumentos de uma Força Divina, pois por mais que a mente relute e tente controlar tudo, já não tem mais domínio e força, e tudo o que for feito será aproveitado para o bem e o crescimento - não somente seu, mas de muitos.

É então, que a segurança, a confiança, o amor-próprio vêm e cada vez mais se fortalecem.

Tudo parece ser conduzido por uma "mão invisível" que sabe o que é melhor e benéfico a nós.

Mesmo que a dor seja inevitável, já não existe mais o pesado sofrimento da contrariedade - essa, sim, que nos leva à angústia e ao conflito. E assim, conforme o processo, vamos nos tornando mais seguros conosco.

Acredito que seja a confiança em relação a essa "mão invisível", é que nos traga coisas, situações e pessoas mais estáveis e confiáveis. E ainda que não possamos prever o porvir, a tendência é a de que o que é verdadeiro terá cada vez mais raiz, firmeza e centramento.

Ter confiança, segurança e amor-próprio não depende de querer, exatamente... não depende de mudar de um estado a outro contrário. Depende apenas de se saber quem você é.

Quando paramos de fugir, contrariar e ignorar a voz do Coração ou aos sentimentos, começamos a entender e sentir aquilo que realmente somos.

É nessa percepção que deixamos de nos comparar, pois nos descobrimos finalmente únicos e magníficos. 

É nessa percepção que deixamos de ser controlados pelo medo, mesmo tendo medo.

É nessa percepção que começamos a enxergar que o que a Alma ou o Coração quer, é o que nos traz propósito, sentido e verdadeira felicidade. 

Nesse momento a mente faz as pazes com a vida, pois entende que ela não é ela, mas sim, o Ser que desperto se utiliza dela... ou em outras palavras: o Ser vê (vivencia) a si mesmo.

Quando você é você de verdade, não há mais luta, controle, contrariedade ao fluxo natural do Universo... não há mais senso algum de obrigatoriedade, obediência ou "tem que".

Você vai se tornando cada vez mais a própria Vontade Divina...

Você se torna novamente UM com o Todo. 

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