Sigo seguindo o seguir


Ouço uma pessoa querida dizer repetidamente:

"Quero apenas seguir a minha vida..."

A frase ecoa em mim e faz a mente criar diversos sentimentos. Olho para a minha vida, e a voz que vem da mesma, é de crítica e culpa.

A mesma mente que distorce a frase, cria emoções de frustração e tristeza, pois o que nos foi condicionado é que para ser um alguém de sucesso é preciso ser uma pessoa bem-sucedida nas questões materiais, profissionais, sociais e afetivas. 

Tudo isso pode ser considerado sucesso, e eu não desconsidero sua importância em nossas vidas... Porém, meu Coração vem e diz que obter esse tal sucesso sem a essência do propósito espiritual desperto, seria o mero acumular de "riquezas" em que as traças e a ferrugem corroem.

Penso comigo: seguir a vida (à mente) é o "adquirir sucessos" e o "esquecer fracassos". Mas nem sempre o adquirir nos faz seguir em frente, e nem o esquecer nos faz resolver os problemas.

Meu Coração, então, me orienta a observar as pedras do meu jardim. Contemplo-as durante um tempo e ele diz:

"Pode não parecer, mas as pedras também "seguem suas vidas" conforme a sua própria natureza. O ambiente as faz seguir através do tempo, da corrosão, de algum agente externo sobre elas... Algumas rolam, outras racham ou se desintegram. Nada é estático... até mesmo às pedras".

Aos olhos meus e das pessoas, minha vida parece ter parado no tempo... estagnado... ou involuído... Parece que nada de concreto se desenvolveu, pois o concreto à mente corresponde às coisas físicas, materiais, intelectuais, afetivas, sexuais e mundanas.

Mas aos olhos do Coração, foi exatamente nesses longos dez anos em que eu mais cresci, me desenvolvi e extrapolei em HUMANIDADE. 

Um quarto de vida é um curto espaço de tempo para tamanha expansão consciencial. Hoje, vejo que o meu caminho de busca financeira foi precoce - com início aos 14 anos -, justamente para que eu tivesse uma "década sabática" em minha trajetória.

Uma década sabática não é em vão... Uma década sabática é a rara oportunidade de autodescoberta e de reposicionamento perante à vida, na qual a sua própria vivência - in loco - torna-se um "espelho" aos outros.

Nós seguimos a vida porque ela nos faz seguir - querendo ou não - o seu próprio fluxo. Assim como a um rio, ela nos leva... ainda que tentemos nos agarrar em algumas rochas e troncos pelo caminho. Sim... é nesse agarrar que sentimos mais a pressão da correnteza sobre nossos corpos... até que o próprio cansaço nos faz soltar as mãos e, assim, ser levados pelo seu curso.

Muitos se agarram no meio da correnteza por medo... outros por sentimentos... porém todos, um dia, são levados em direção ao mar. Só que mesmo a tentativa de parar o fluxo faz parte do fluxo... pois sem a experiência do tentar parar, não há a percepção do que seja a sensação pacífica e natural do fluir.

O verdadeiro seguir a vida não é o mero movimento do corpo de um local a outro. Não é o fazer isso ou aquilo. Não é ter aquisições, conquistas ou realizações. Não é mudar de seis para meia dúzia.

verdadeiro seguir a vida é seguir a sua natureza espiritual e humana em conjunto. É viver o seu propósito de alma. É ser o máximo de você mesmo, em sua essência, até o último suspiro. É ser guiado pelos seus sentimentos mais nobres e sublimes.

Podemos seguir a vida entre trancos e barrancos, contanto que aprendamos a não precisar mais deles.

Podemos seguir os desvios e cair nas armadilhas, contanto que voltemos ao nosso caminho verdadeiro.

Tudo nos leva a seguir a vida... mesmo que a princípio não pareçamos estar seguindo.

Aquilo que aos olhos da mente aparenta ser progresso, muitas vezes é um grande atraso espiritual e de missão. Aquilo que aos olhos da mente aparenta ser atraso e estagnação, muitas vezes é enorme avanço, não só espiritual, mas de importância no mundo.

O que toda essa suposta parada na vida me trouxe foi a descoberta do meu sentido de estar aqui. Sem esse período sabático eu não saberia quem eu sou, qual a minha função e qual caminho seguir. Foram necessários dez anos, desde o meu grande e abrupto despertar da consciência, para essa constatação e ajustamento espiritual em meu modo de viver - antes, tão sem propósito e medíocre.

Agora tenho direção e objetivo, apesar de não saber, com muita precisão, seus meios.

A razão ainda tenta relutar, criticar, impor culpa, frustração e raiva. Mas o Coração é meu esteio, e é ele que me faz enxergar que nada foi desperdício de tempo, ação e sentimento.

Sigo seguindo a minha vida... ora em mudanças radicais nítidas externas... ora em mudanças radicais nítidas internas... Ou seja, ciclos de grandes alternâncias.

Sinto novamente um novo ciclo começando...

E dessa vez, unificando a vida espiritual com a matéria. Não mais um ou outro, e sim, os dois.

Independentemente do que vivo, sinto, penso, estou... sempre segui e sigo a minha vida em frente... ainda que muitos - e até ás vezes, eu mesma - achem que não.

A Natureza é sábia. Somos nós que não enxergamos sua sabedoria.

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