Enxergue-se nas Brechas


Se fosse fácil a nós descobrirmos quem de verdade somos, já existiriam milhares de livros nos contando O SEGREDO.

Aqueles que contam algum tipo de "segredo" nunca apontam para a sua Essência, mas para poderes psíquicos que não necessariamente lhe dizem qual o seu propósito nesta vida. Apenas dizem que você tem poder... Mas quem é esse você para ter tal poder?

Ter habilidades, inteligência, talento, sem saber sobre a sua verdade mais profunda, é extremamente perigoso. Seria como a uma criança com uma arma na mão... Seria como o vilão do filme com todo o poder do Universo - para dominá-lo ou destruí-lo.

Ainda que não exista nenhum segredo, nenhuma receita, nenhum mapa, nenhuma didática para se reconhecer o nosso Ser, algo em mim sempre tentava colocar em palavras aquilo que eu sentia como verdadeiro.

A palavra não consegue descrever com exatidão o que seria esse ser mais profundo em nós, porque ainda que consigamos nomear com bonitas palavras como Amor, Paz, Sabedoria, Consciência, também não alcançamos o significado puro delas... Ou seja, ao não sabermos quem somos, não sabemos o que elas significam de fato.

Mas talvez exista uma maneira de fazer as pessoas relembrarem o que seja esse eu verdadeiro... E uma das maneiras é dar exemplos passados - mesmo que momentâneos - em nossas próprias vidas.

É um equívoco dizer que nunca amamos... que não sabemos o que seja o Amor...

Você pode em sua maior parte não saber amar, mas o fato de sermos o próprio Amor já faz manifestá-lo em algumas brechas em que o ego de repente se ausenta por algumas frações de segundos.

Até mesmo o homem ou a mulher mais vil e cruel não pode ser 100% egoísmo. Por mais soterrada esteja a sua luz, a Essência pura existe e está viva dentro dele(a).

Poderíamos dar como exemplo de Amor, as nossas vivências de infância, quando éramos mais puros e inocentes... quando não enxergávamos maldade, não tínhamos preconceitos e não guardávamos mágoas. Porém, talvez isso não fosse um indicativo de que continuamos a ser esse amor, por isso prefiro relembrar coisas mais atuais de nosso dia a dia.

Acredito que você tenha tido momentos de alegria e emoção apenas por contemplar a natureza: uma flor, uma borboleta, a chuva, o cheiro de terra molhada, um cachorro na rua, a brisa no rosto, um pôr do sol, um arco-íris, o mar... Essa sua alegria e emoção pura eram você.

Creio que você já tenha se sentido feliz apenas por presenciar um simples ato gentil, uma conversa significativa com um estranho, um acontecimento banal porém belo, uma música tocante, uma palavra sensível ou um sorriso sincero... Essa sua felicidade pura era você.

Quem sabe você tenha sentido gratidão só por se sentir útil a uma pessoa, por ter feito a diferença na vida dela, por ter sido escolhido(a) por ela, por ter sido ajudado(a) por ela... Essa sua gratidão pura era você.

Pode ser também que você tenha sentido paz de espírito por ter feito a coisa certa, por ter sido honesto(a), por ter pensado primeiro no outro, por ter tido compaixão, mesmo ao sair perdendo em algo... Essa sua paz de espírito era você.

Quando você sentia aquela saudade daquilo que você não sabia o que era, daquilo que você nem chegou a conhecer, daquilo que sempre foi porém nunca aconteceu, daquilo que você sempre esperou fora, estando dentro de você... Essa sua saudade era você.

Sabe aquela tristeza que você sentia quando cansava de não ser você mesmo, de fazer o que os outros queriam, de se esforçar em manter uma imagem, de lutar por expectativas dos outros, de ser um personagem falso, de ter que mentir, de ter que trair a si mesmo? Essa sua tristeza era você.

E finalmente... quando você sentia amor sem motivo, sem expectativa, sem desejo, sem medo, sem interesse... apenas por sentir satisfação em doar amor, em corresponder, em ser você, em ser generoso, gentil, carinhoso, caloroso... Esse seu amor era você.

O fato de você não ser sempre você não significa que você não seja tudo isso, exemplificado acima. O que acontece é que as pessoas se esquecem desses pequenos momentos, não os valoriza... que o que você é vai se perdendo naquilo que você não é.

O que é de valor e verdadeiro em você deve ser enaltecido, não, por vaidade, mas por amor e gratidão ao ser sensível que ainda vive em você.

A mente cega cria realidades com uma simples crença. E a crença mais perigosa é acreditar que se você acha que não sabe quem você é, você nunca vai amar, agir com altruísmo, com moral, com justiça, com generosidade, com ética... e que portanto devemos viver de acordo com esse personagem egoísta. 

Ter consciência de que não estamos agindo com verdade e amor é uma coisa... acreditar que você não consegue e que por isso deve agir conforme o que a mente e os instintos ditam, é outra. Por mais que a mente não tenha o poder de sair dela mesma, o equívoco é pensar que se não tem, deve-se continuar nas suas ilusões e alimentá-las. 

Mas a questão é que você não pode "sair" da mente, porque você não é a mente... e portanto já está "fora". (Claro que não depende de termos essa teoria - a constatação real disso não é uma constante a mim).

Outra armadilha é afirmar com veemência que é um ser sem amor... Pois como já diziam alguns mestres - principalmente Krishnamurti - é que quando você faz constantemente afirmações negativas, mesmo baseadas em fatos, você já se fecha para as possibilidades.

Não é que devemos nos forçar a ter afirmações positivas, mas devemos ter a menta aberta (inocente), sem dizer que é de tal forma ou de outra... Devemos, sim, questionar tal afirmação. É necessária uma mente vazia, para que o que é verdadeiro surja. As coisas podem estar de um jeito, mas não significa que não possa mudar daqui a alguns segundos.

A constatação de fatos nunca pode ser uma afirmação dura, pois a mente tende a pegar constatações e transformá-las em veredicto. E sem percebermos, é o que ela faz o tempo inteiro.

Você é Ser, Verdade e Amor... mas sua mente faz acreditar que não sabe o que é, descartando todos os momentos de amorosidade e sensibilidade que tem nessas brechas de conexão com o divino. 

Quando sua atenção se volta a esses momentos verdadeiros, sua Presença (Consciência) se fortalece e se torna cada vez mais frequente. As tais brechas vão se tornando cada vez mais largas...

É na valorização do que é verdadeiro em você e no discernimento do que é verdadeiro e falso, que você consegue dissolver o falso.

Já somos esse ser verdadeiro, porém ainda não o estamos plenamente.

Mesmo assim, tenha gratidão por ser autêntico nos breves momentos... pois o estar virá naturalmente com essa consciência de QUEM VOCÊ É

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