Emoção como amiga


Hoje talvez eu seja um pouco paradoxal...

Não exatamente contraditória, mas irei refletir sobre algo que poucos tentam, e por isso mesmo muitos preconceituam.

Na espiritualidade é comum dizer que o homem (ou a mulher) dominado pelas suas emoções age cegamente e inconsequentemente.

Essa certamente é a realidade da maioria da humanidade - já que há um descontrole total das emoções e dos instintos. É comum, inclusive, dizer que a razão deve ser o equilíbrio, juntamente com a emoção, na sanidade mental.

Porém eu diria que só pode existir equilíbrio real - e verdadeira sanidade - quando a Consciência está desperta em nós. É ela a sabedoria, o discernimento, a inteligência e a intuição que rege, tanto a razão como a emoção.

Não há nenhum tipo de controle, como em geral ocorre quando a razão se sobrepõe à emoção. A Consciência é o próprio equilíbrio natural do ser, que sabe quando, onde e porquê.

Quando a Consciência é o nosso guia, não há censura ou repressão das emoções; Ela simplesmente REDIRECIONA a energia emocional para algo produtivo, benéfico e libertador.

Darei alguns exemplos da minha própria vivência...

Mesmo que no meio espiritualista se diga que "ter paixão por algo ou alguém é errado", eu me abri e me entreguei completamente a ela, ao me apaixonar por uma pessoa. Querer controlar a paixão é que é um erro... querer extinguir ou esquecer é impossível. O máximo que se consegue é reprimi-la. E isso não é nada saudável ou recomendável.

Muitos poderiam dizer que a paixão só acontece aos indivíduos que são carentes e dependentes de afeto e companhia. Eu me pergunto: será? Por que ela não poderia ser uma recarga energética e estimuladora para algum propósito maior e mais verdadeiro?

A paixão é uma emoção como qualquer outra, que também em desequilíbrio causa sofrimento e problemas. Mas assim também é com a alegria exagerada (em desequilíbrio), que é somente um mascaramento das angústias internas ou uma fuga da realidade. 

O medo e a culpa também são necessários em determinadas situações, pois a ausência destes seria indício de um comportamento psicopata. Porém, o medo psicológico temporal e o remorso duradouro são desequilíbrios.

A ansiedade na medida certa nos deixa atentos em situações de perigo, mas a desequilibrada nos traz transtornos psíquicos. Assim como a tristeza nos faz mais humildes e introspectivos, em desequilíbrio leva à depressão.



Reprimir e preconceituar a paixão é o maior erro que a espiritualidade comete. Pois digo por experiência própria que foi ela que me impulsionou à EXPANSÃO DE CONSCIÊNCIA. 

Entregar-se e abrir-se à paixão não significa ser inconsequente, fazer tudo o que ela deseja, atropelar tudo e todos por ela, "mendigar, roubar ou matar" por ela, conseguir a todo custo o objeto de seu desejo... Isso seria se deixar arrastar pelos apelos da emoção.

Entregar-se ou abrir-se à paixão significa ACEITAR a emoção enquanto ela estiver em você, independentemente do que ela trará ou não à sua vida. No entanto, eu lhe garanto que ela sempre trará... em um sentido espiritual e de consciência.

Aceitar a paixão na sua vida significa que você não deve se deixar escravizar por ela, mas que também não deve fugir dela, e sim, compreendê-la e torná-la uma aliada. 

É sempre o MEDO que se disfarça de SUPERIORIDADE ESPIRITUAL ou equanimidade, que na verdade é apenas uma indiferença promovida artificialmente. Isso nada tem a ver com desapego... Isso é hipocrisia do Ego Espiritualista.

Como disse no começo do texto, é a Consciência que deve comandar a emoção e a razão. Ela não reprime a paixão, não a censura, não tenta se convencer que se apaixonar é errado... Ela simplesmente aceita isso com amor, ainda que tal vivência traga algumas dores. 

É o medo da mente que tenta se agarrar à falsa paz, à falsa equanimidade, a um equilíbrio artificial, tentando eliminar a emoção. Até mesmo na própria OBSERVAÇÃO a mente tem a intenção de extinguir as emoções tidas como negativas por ela... o que é um equívoco.

A única que tem a intenção de eliminar as emoções é a própria mente, mesmo nas técnicas de meditação, autoconhecimento e observação. Mas nunca será pela intenção de eliminá-las que redirecionaremos essas energias a algo benéfico e produtivo ao Ser e a vida. Será única e exclusivamente pela ACEITAÇÃO delas no momento, sem expectativas, medos, projeções do que poderá acontecer.

As expectativas, os medos e as projeções virão com ela... mas eles também deverão ser aceitos e vividos, sem censura, intenção (escolha) ou tentativa de exclusão.

Aceitá-los, contudo, não quer dizer tê-los como certos ou que devemos nos conformar e estagnar com eles. Aceitação, antes de tudo, é uma COMPREENSÃO que sucede ao sentimento de COMPAIXÃO por si e por tudo o que nos acontece.

Todas emoções são passageiras. Nossa função é recebê-las e "transcendê-las" a uma energia positiva e construtiva, enquanto estão hóspedes em nós. Nem sempre conseguiremos, mas com a Consciência presente, mais e mais as emoções se tornarão aliadas... e não mais inimigas.

Somente a Consciência desperta pode saber o que é apropriado ou não fazer, quando a emoção nos visita. Ela não vem simplesmente para ficarmos estáticos, vendo ela vir e passar por nós... ela não vem à toa. A emoção vem, sob a "orientação" da Consciência, a nos fazer agir e viver a vida em suas variadas formas e sentidos. É ela que nos movimenta.

Uma vida sem emoção fica robótica, sem vida, sem brilho, sem alma... Portanto, ela nem sempre é o problema do sofrimento. Na verdade, ela é neutra... somos nós (razão e instinto) que a tornamos desequilibrada. 

Nós, Consciência, é que a equilibramos naturalmente - sem esforço, sem controle, sem censura.

As pessoas desaprenderam a fluir na vida, pois o que elas querem é ter o domínio de todas as situações... mesmo no meio espiritualista. 

Mas quem "dita as regras" é a Vida... e se ela colocar uma paixão no seu caminho, agradeça.

Pois se isso aconteceu, com certeza é porque Ela quer que você mude de direção e propósito... 

Independentemente do que a emoção lhe trará como experiência.


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