A Dimensão do Coração


Existe uma enorme diferença entre não gostar de se relacionar com pessoas e o não enxergar relação real e profunda entre mim e as pessoas.

Nunca disse que não gostava de pessoas. Aliás, como posso sentir na alma um propósito de querer ajudar os outros, se não gostasse de pessoas?

A questão não é aversão... não é misantropia...

A questão é a de me ver vivendo em um "mundo paralelo" a elas.

Já não vejo isso com desgosto ou amargura, mas como um fato imutável de solitude. Sentir-se diferente e só não significa achar-se superior, melhor... significa apenas ser diferente e poder fazer a diferença no mundo.

Somente o ser individual e diferente pode causar transformações reais e maiores no meio. E a transformação que ele causa é exatamente a inspiração para que cada um seja individual e único.

Tudo bem termos afinidades em comum com os outros. Comungar com pessoas afins é saudável até o ponto em que não se torna preconceitos, ideologias, crenças formatadas ou um conceito pronto. Grupos onde a forma de pensar é cristalizada pela maioria ou por um "líder" nunca pode ser saudável, pois a conscientização paralisa no individuo, ficando ele à mercê daquele que domina o pensamento grupal.

Vejo isso acontecer muito... pessoas que poderiam abrir muito mais a Consciência, simplesmente estagnam devido à submissão ao conceito, visão ou crença de um sujeito (de autoridade) ou de uma maioria. E isso é bem triste de ver...

Ser sozinho, consciencialmente falando, é estar acompanhado de si, porém vivendo em uma outra "dimensão". Você até tem vontade de se aproximar mais das pessoas, no entanto você vê que, mesmo que queira, não é possível. Pelo menos, não, com a maioria.

O único meio que você encontra de se aproximar um pouco mais delas é adentrando na "dimensão" na qual elas vivem. E ainda que seja um mundo, em sua maioria, superficial, você tenta estabelecer contato com os seus habitantes.

Por que para mim é tão difícil estabelecer um contato maior, você deve estar se perguntando. Utilizando uma frase famosa como resposta, eu diria que "meu reino não é desse mundo".

Como já falei, eu vivo uma dimensão paralela, onde minhas visões, sentimentos, ações são quase sempre baseados em fatores intuitivos, filosóficos e espirituais. E o que geralmente enxergo nos outros são visões, sentimentos, ações dissociadas da Essência deles, regidos pelo medo e pelos instintos.

É simplesmente por isso que meus relacionamentos tendem a ter algum obstáculo ou bloqueio. Enquanto a grande maioria se comporta ou reage racionalmente, meu comportamento ou reações são de acordo com o que eu vejo e sinto de verdadeiro no mundo etéreo, emocional e espiritual.

Posso me enganar muito com as intenções mentais, racionais ou egoicas das pessoas, mas minha intuição enxerga os sentimentos e as reais intenções de alma dos outros... ou seja, por trás de muitas máscaras, eu consigo ver o Coração sufocado e reprimido da maioria.

Viver nesse mundo paralelo, confesso, é doloroso. Muitas vezes, sem eu mesma demonstrar minha profundidade e intensidade, percebo que as pessoas se incomodam com a minha presença. É como se fosse realmente algo energético, no qual alguns de começo sentissem aversão e outros muita afeição... só que nesses dois extremos, ninguém de fato aguentasse a aproximação.

Para que haja "aproximação" é preciso que eu seja extremamente superficial, fale de futilidades e viva numa espécie de piloto automático. Percebo muito isso em relação à minha família, já que entrar em conversas mais significativas causa um visível incômodo ou até mesmo um conflito.

Seria como precisar "apagar minha luz" para que a convivência fosse um pouco mais suportável. Comparo essa situação frequentemente com o usar um disfarce de super-herói - apenas como constatação de um fato, e não, como qualquer tipo de vaidade... já que vejo a todos como potenciais super-heróis.

Outra coisa percebida por mim é a confusão que eu causo na mente da maioria, por não ser nada significante, importante, valorizada ou admirada no sentido social, mental e de status, mas ter extremo PODER PESSOAL ou interno. Esse é outro motivo de aversão nas pessoas, pois a razão não consegue compreender a força de um alguém, sem que seja exclusivamente pelos requisitos físicos, materiais, profissionais, intelectuais, de realizações ou reputações do mundo. Não, que não tenham sua importância, mas a questão é quase todo mundo achar isso tudo muito mais importante do que SER - mais importante do que o espírito e a Consciência.

Apesar de ser doloroso constatar essas situações, não sinto raiva, ressentimento, revolta. Apenas vejo que a vontade de estabelecer vínculos mais profundos é impedida devido à desestabilização vibracional que eu causo. Vínculos, esses, que ajudariam os indivíduos a serem mais eles mesmos.

Em geral, "habitantes da dimensão 3D" se aproximam de outros com os mesmos interesses transitórios. A afinidade deles está baseada em crenças, estilo de vida, gostos da personalidade, hobby, profissão, atividade, práticas, etc., pois é mais fácil e prazerosa de lidar. Poucos são os que procuram a afinidade mais profunda e espiritual, já que essa sempre causa transformações e crescimento interno.

Sendo assim, são poucos os que contribuem a um sentido mais profundo de viver neste planeta. A maioria se une a afinidades passageiras que lhe dá a falsa sensação de segurança. 
Por essa razão, grupos e mais grupos são formados, separando toda a humanidade em facções inimigas conceituais.

Pertencer e viver em uma outra dimensão é solitário, nem tanto porque queremos... mas porque vibramos, sentimos e agimos diferente.

Isso, simplesmente, porque não conseguimos viver através de máscaras, poses, personagens, interpretações. Mas enxergamos e vivemos pela alma - nossa e a dos outros - e suas intenções.

Não sou eu que me fecho; não sou eu que me isolo. É o mundo que não se abre à dimensão do Coração.

E o que me resta, ao morar na dimensão do Coração, é abrir um portal até aqui...

Já, quem ou quantos irão atravessar não depende mais de mim.


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