Solidão de Deus é Criação
Muitas vezes tento entender Deus em minha imaginação...
E o que me vem nela é a imagem de que Ele é profundamente solitário.
Sim... Vejo Deus sozinho em suas criações, tentando ter a sensação da companhia delas. Então, no fim das contas, Deus tem a companhia de Si mesmo.
Em nossa concepção mental seria algo bem triste. Mas, em sua Plenitude, Deus não sente vazio, nem tristeza... talvez seja Ele a própria necessidade de se completar.
Mas ora... Se já há completude, por que precisaria se completar?
Aí está a grande questão...
Deus não busca se completar por sentir incompletude. Deus busca se completar para gerar VIDA.
Vida é movimento, vida é busca, vida é vontade, vida é incompletude em direção à completude. É nesse movimento que se dá a expansão, o Big Bang, o nascer das estrelas.
Sendo assim, Plenitude Espiritual só é plena quando existe nela a busca pelo novo, sem qualquer estímulo de carências. É a busca infinita de si.
Sou um alguém que ainda tenho incompletudes - e, ainda que acredite que só Deus possa ser de fato completo -, sinto em mim algo que me completa, estando, eu, sentindo vazio. Porém é algo quase impossível à nossa mente compreender, pois a ela não há como sentirmos completude estando ao mesmo tempo vazios.
É estranho dizer, mas minha companhia vem da minha solidão... meu Amor vem da minha falta. E quando eles vêm, não cessa a solidão e nem a falta... eles todos se COMPLEMENTAM.
A solidão e a falta se tornam o reflexo do espelho para eu reconhecer quem eu sou.
É na solidão que eu consigo encontrar a mim e me amar. É também na dor que consigo alcançar profundidades que quase ninguém alcança.
Tento resgatar alguns sentimentos em palavras dos subterrâneos de mim, mas poucas são as que conseguem sustentá-los e emergi-los à superfície devido à sua imensidão.
Mas eis que trago à tona alguns e os garimpo, fazendo-os brilhar no escuro e denso mundo externo. Ainda assim são poucos os que enxergam ouro.
Habitantes da superfície em geral buscam o descartável plástico da objetividade. O ouro é tolo aos que preferem o perecível.
Ser profundo é ser sozinho, estando acompanhado de si mesmo. Aqui nas profundezas enxergamos mais beleza, sentimos mais amor, choramos a dor da separação.
Só quem é profundo vê o quão as pessoas são distantes e separadas delas e dos outros, e o quão nos sentimos separados delas, sabendo-nos unos.
Vê-los e querer alcançá-los seria como querer alcançar horizontes. Porém mesmo não alcançando os horizontes, nos contentamos em contemplar o sol a nascer e a morrer neles, dia após dia. Talvez uma hora se deem conta que são o próprio sol.
Moradores da profundidade do Ser causam muito medo. Pois lidar com alguém assim é se deparar com um imenso abismo, e constatar que terá que mergulhar fundo para entender a ele e a si mesmo - já que o profundo mostra a própria profundidade do outro.
E uma vez no mergulho, também se deparará com a solidão e a dor de ver os outros separados dele, sabendo-se uno.
Assim é com Deus: solidão em Sua companhia, Amor "não-correspondido" correspondido, completude incompleta...
E a cada criação sua, alcançando a profundidade plena solitária... mais Amor sente por Ele e por tudo... Mais vontade de união Ele sente com sua criação e consigo mesmo.
Profundidade do Ser é Deus se buscando em você, e você, buscando Deus no outro.
Portanto, dois profundos juntos é Deus mais perto Dele mesmo, formando a Trindade.
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