Simplicidade de Coração





Esses dias venho sentindo algo muito intenso e peculiar em mim...
E é o que venho comentando com algumas pessoas próximas.

Sabe aquela sensação de sentir-se "criança" em um corpo de adulto?
Talvez não (mas espero que sim)... Já que a maioria se perdeu de sua própria inocência...

Sim, é no sentido de inocência que eu falo. Não exatamente ingenuidade, mas sim, aquela pureza maior que o nosso Coração vívido (não embotado) sente.

O mais interessante é que eu poderia achar isso muito bom... incrível... maravilhoso... Mas infelizmente não é o que estou achando. E advinha o porquê? 

Porque ter um Coração mais livre das artimanhas do ego é visto como uma desqualificação no mundo onde vivemos. E isso me afasta de muitos.

Ter o Coração mais simples é visto como um alguém fraco, bobo, sem graça, sentimental. Se você é simples, você é um fracassado, um coitado, um indolente, um zé-ninguém; ou seja, um alguém sem significado nenhum para a sociedade.

A simplicidade do Coração implica em não se utilizar de jogos ou sagacidade para conquistar o seu espaço e valor. A naturalidade é sua marca registrada. Mas em geral, ser você de verdade não causa admiração, respeito ou interesse na maioria das pessoas, porque ser simples é não ter qualquer funcionalidade no meio competitivo da sociedade. Nela você precisa ser arrogante, sofisticado, astuto, cruel, agressivo e exuberante para ser levado a sério.

Quanto mais eu vou ficando mais velha, mais tudo isso em mim vai se tornando gritante. Isso porque enquanto as pessoas se deixam levar pela malandragem por causa de seus sofrimentos acumulados há anos, eu com a minha dor vou seguindo o rumo da pureza.

E se ver rumando o caminho contrário dos outros é solitário.

Ao ser simples de Coração você se sente se tornando mais e mais invisível... mais e mais invalidado... mais e mais desacreditado... mais e mais desprezado. É preciso ter um suntuoso ego para ter status.

A humanidade em geral se alimenta de estímulos sensoriais e emocionais intensos. Se não houver conflito, briga, desejo, paixão cega, provocação, prazer sexual, divertimentos mil, à ela não é vida... não é viver... não tem sentido algum...

Mas os simples sabem que a verdadeira vida está nos sentimentos ternos pelos indivíduos, na honestidade, na ética, na moral, no respeito, na compreensão, na profundidade, na consciência, na intuição, e principalmente naquilo que a Alma sente de mais legítimo nela.

A maioria, ao invés de se purificar devido ao sofrimento, torna-se cada vez mais vingativa e interesseira. É como se tudo o que vivenciam de doloroso fosse uma lição para que ficassem mais sagazes, e assim, conseguissem se proteger e levar vantagem sobre os outros.

O inocente de Coração sabe que cada dor vivida é um lapidar de sua pedra antes bruta. Quanto mais adversidade, menos pretensão... porém muito mais brilho.

Mas talvez o menosprezo e a rejeição aos mais simples seja o grande teste deles; pois mesmo na sua frequente invisibilidade social, eles têm o privilegiado propósito concedido: o de amar sem condições.

Quem tem simplicidade no Coração ama, não, para ser bonzinho... mas porque é de sua natureza amar. E ele ama, sem querer agradar, mas para ser justo, íntegro e verdadeiro.

Retornar à inocência e à sabedoria requer coragem porque é solitário e de certa forma sacrificante. 

Você será um nada em um mundo onde só existe interesses (materiais, sensoriais e emocionais)...

Porém sua alegria será ter a certeza de ser tudo ao Todo, exatamente porque ser simples e inocente de Coração é estar mais próximo Dele.

E eu escolhi ficar mais próxima Dele...
E por isso a minha distância consciencial dos outros.

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