A Corda Bamba da Ponderação
Buda só não foi crucificado talvez, porque as pessoas se intimidavam com sua aura pacífica e seu temperamento inalterável. Matar um homem tão sereno criaria uma imagem negativa aos seus opositores. (Tipo Gandhi?).
Mas fora isso, penso - e muitas teorias contam - que ele foi hostilizado por muitas pessoas, como qualquer Ser além de seu tempo.
Buda também quebrou regras, padrões, conceitos, tradições, pois todo tipo de Consciência elevada causa uma ruptura na cultura vigente, independente de ser "conservadora" ou "progressista". A quebra não é a um tipo de mentalidade específica... A quebra é a qualquer mentalidade coletiva.
Ainda que sejamos todos budas em essência (Consciência Pura), não estou nem perto dessa condição búdica manifestada.
Porém mesmo assim, sendo tão cheia de manias e falhas, minha percepção dos extremismos em geral quase nunca é compreendida, sendo alvo de críticas, intolerância e retaliações. Hoje, vejo que o motivo sempre está inserido nisso (ponderação), por mais variada seja a situação, mesmo sendo eu uma aprendiz de mim e da Vida.
Não sou Buda, mas sou "equilibrista" por natureza. A corda bamba é o meu caminho, e o equilíbrio, a minha sobrevivência consciencial.
Não é um equilíbrio meramente mental. Ter bom senso, coerência e discernimento é um exercício intuitivo. Essas coisas vêm primeiramente do Coração, não, da razão.
Quando me vejo pendendo para um lado, volto rapidamente o meu corpo para o outro para não sofrer a queda... ou seja, a queda de Consciência. Enxergar bem além dos extremos de cada lado acaba atraindo ataques de ambos, pois ninguém quer convergir a um só ponto. O que vale é somente a visão "encaixotada" de um tipo de conceito.
É incompreensível a mim, ver que as pessoas em geral não conseguem enxergar verdade, coerência e bom senso fora das próprias caixinhas. "Se não faz parte da minha, é tudo errado", todos acreditam.
Sendo assim, tornam-me a inimiga de todos, exatamente porque não concordo com nenhum pensamento formatado. Eu investigo, observo, estudo, pesquiso, reflito, ouço - SEM PRECONCEITO ALGUM -, e por isso mesmo alcanço um panorama mais amplo das coisas.
Ponderação é a vida do "equilibrista". E quando falo em ponderação, falo de conseguir ser mais flexível e compreensivo em relação a tudo. Quando eu vir rigidez, evitação, fuga, crítica, injustiças, falta de compreensão, insensatez, "infelizmente" eu vou falar. E mesmo que eu tente evitar, já não será mais possível esconder a luz do candeeiro no armário ou debaixo da terra... a energia uma hora emergirá.
Ao falar para PONDERARMOS e não nos apegarmos a crenças, ideologias, ou conceitos grupais - sejam políticos, religiosos, espiritualistas, filosóficos, científicos - as pessoas irão me atacar. Isso porque ninguém entende que estou me referindo AO CONDICIONAMENTO MENTAL COLETIVO, não exatamente ao agrupamento de pessoas significativas a nós. Reunir-se aos outros mantendo SUA INDIVIDUALIDADE, é o que sou a favor. Mas hoje em dia, poucas pessoas são individuais de verdade. Ter afinidade com outra pessoa não significa que precisamos PENSAR E AGIR igual, mas acima de tudo (e apenas) estar em sintonia vibracional com ela.
Sintonia vibracional tem muito mais ligação com a COMPREENSÃO do outro em sua essência. Porém essa sintonia raramente ocorre devido à mente (ego) de cada um, pois somos dominados muito mais por ela (mente com seus conceitos e gostos) do que pelo Coração.
Ao falar para PONDERARMOS e termos mais atenção com o nosso lado mediúnico ou energético, e a humildade de reconhecer que não estamos sozinhos nessa evolução individual, as pessoas irão me atacar. Isso porque tudo o que seja extrafísico é tratado com irrelevância, desconfiança, ceticismo, medo, desprezo, aversão, já que é algo que não se vê com os olhos, e porque faz as pessoas se sentirem vulneráveis ou dependentes de algo além deles. Achar que estamos sozinhos nisso, sendo tão inconscientes e imaturos como somos em nossas vidas, é querer de nós mais do que podemos oferecer. Seria como uma criança já se considerar adulta e independente.
Ao falar para PONDERARMOS e enxergarmos que o caminho espiritual não é abstinência, abandono do mundo, abandono de si, ascetismo, rejeição total da matéria, as pessoas irão me atacar. Isso porque os modelos de avatares, mestres, sábios, santos e iluminados estão arraigados na mente das pessoas, fazendo elas acreditarem que devem ser IGUAIS a eles. Muitos acreditam que o modelo de ascensão é só esse, e que portanto aquele que se eleva espiritualmente e vive tranquilamente a vida humana no mundo, trabalhando normalmente, estudando, tendo relacionamento afetivo, se casando, tendo filhos, tendo dinheiro e se aposentando, não está se elevando na realidade. Não servir a "dois senhores" nunca foi se abster dessas coisas, mas TER CONSCIÊNCIA de que o mundo deve servir às coisas do espírito. "Viver no mundo, sem ser do mundo".
Ao falar para PONDERARMOS e não querer que o mundo faça as nossas vontades e que ele seja uma Terra do Nunca, por mais dificuldades tenhamos na vida, as pessoas irão me atacar. Isso porque elas não entendem que EU NÃO SOU CONTRA A AJUDA em si, mas, sim, à vitimização e o coitadismo constante das pessoas quando surge um desafio. Enaltecer as qualidades e os potenciais das pessoas, muitas vezes causará raiva, pois elas não querem se responsabilizar por suas vidas, tomar atitudes e se superarem. Muitos se agarram ao seu sofrimento por quererem a dó e a piedade dos outros, apenas. Enxergar que o indivíduo tem um poder ou dom único é retaliado e visto como "cobrança" minha.
Ao falar para PONDERARMOS e não exigirmos tanto daquele que REALMENTE está sofrendo com motivos, que está buscando se aprimorar, se curar, despertar, melhorar a qualidade de vida, seu emocional e mental, as pessoas irão me atacar. Isso porque elas estão condicionadas a uma mente que acha que - nós, seres inconscientes, vulneráveis a tudo que é energia e seres - temos que nos responsabilizar por ABSOLUTAMENTE TUDO. 'Tudo o que vemos nos outros, somos nós mesmos'... esse é o conceito. Então, se até mesmo vermos psicopatia, narcisismo, corrupção, depravação, falsidade nos outros, nós também teremos essas coisas, inquestionavelmente? Temos graus de elevação espiritual diferentes. Portanto, o parar de julgar os outros, a não-vitimização, não se dá por acreditarmos que somos culpados de tudo, que tudo somos nós "que atraímos" ou temos. Se dá, sim, pela descoberta cada vez maior daquilo que somos de verdade. Ao saber quem somos, não há necessidade de crença alguma para cessarmos o julgamento. Não há necessidade de acreditar em carmas para nos elevarmos como seres. Basta se conhecer como essência. Para não ser mais vitimista, não é buscando ser o contrário que conseguimos transmutar nossas sombras. É tendo compaixão por elas, mesmo as vendo como anti-naturais em nós.
Eu não serei compreendida... porque para que me compreendam é preciso que os outros também estejam constantemente se equilibrando, discernindo, ponderando, percebendo os extremos e a rigidez da mente. Posso também falhar, claro... Mas o que eu digo é que tudo o que eu enxergar de inflexibilidade conceitual, eu discordarei e consequentemente serei retaliada.
Faz parte e tenho que aceitar? É algo normal? Sim, pode ser. Mas ao ver isso acontecer, eu também vou precisar falar...
Simplesmente porque as pessoas não estão enxergando a sua inflexibilidade e preconceito.
As duas faces da moeda se conflitam, sem enxergar que são o mesmo objeto.
E enxergando o conflito, sou incompreendida pela maioria, estando eu no Caminho do Meio... numa constante corda bamba.
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