Encontros e Despedidas
Quer ter mais inspiração para um livro ou uma música?
Quer compreender a vida e dar mais valor a ela?
Quer expandir a consciência a uma nova visão?
Passe mais de uma semana num hospital...
Lá você ouvirá experiências de vidas únicas, conviverá com todo o tipo de gente, verá muita humanidade e indiferença no mesmo local, e principalmente... presenciará a morte de perto. (Em uma semana e meia, vi várias).
Morte... tão falada e escrita por filósofos, religiosos, espiritualistas de forma bela e poética... porém tão feia, triste e dolorosa na prática.
A morte pode ser um alívio aos que sofrem de doenças cruéis... uma mera passagem de mundos... o fim de uma jornada cansativa e difícil... No entanto, quando ela chega, é impactante aos que ficam.
Podemos compreender a morte como desígnio de Deus, aceitá-la como coisa natural... mas é inevitável o sentimento de vazio, de incredulidade. "Até ontem vivo... hoje morto. Como assim?"
Quando ela vem, o silêncio de repente paira ao redor, como uma névoa fria. O sentimento meditativo surge naturalmente em nós. É como se esse silêncio nos dissesse: "O barulho externo é fugaz e cessa. O que prevalece é o silêncio interno de cada um."
E dentro de cada um surge a consciência da transitoriedade... ainda que a sensação seja de eternidade.
Contudo a morte não é vilã. O que não conseguimos aceitar é a doença.
Vendo todos aqueles enfermos acamados, eu me perguntava: para quê?
Ainda que existam mil teorias do sentido da tragédia e do sofrimento, muitas até muito plausíveis e lógicas, eu não me convenço da necessidade de tanta miséria... Podemos nos tornar mais humildes na doença, mas quando ela é terminal, não vejo o porquê.
Seremos mais humildes do outro lado? Ficaremos arrependidos no além? Ganharemos algum bônus pós-morte? Novamente me pergunto: para quê?
Porém, apesar de não ver sentido algum na crueldade da doença, penso, sim, que a Vida nos compensa em algum momento... pois quando a dor não se transforma em revolta, e sim, em transcendência e sabedoria, a recompensa sempre vem na forma de Amor e Paz... ainda que pós-morte.
Não acho que seja necessário... mas oportuno ao crescimento espiritual.
Pessoas boas e ruins morrem de formas idênticas. A doença não faz distinção do caráter de um indivíduo. Se a doença acontece, ela está muito mais ligada ao emocional de cada um, assim como em seu modo de viver.
A questão não está em ser negativo e atrair a doença, como muitos pregam... a questão não é tentar ficar positivo, estando negativo... tudo isso é balela. A questão é aprender a aceitar e lidar com nossas emoções negativas, nossas limitações, sabendo observá-las de modo natural... sem cobranças e censuras.
Ser saudável engloba muitas coisas, não, apenas o físico, nem apenas o emocional ou somente o mental. Ser saudável é o equilíbrio de tudo isso junto, com o espiritual desperto em nós. E exatamente por estarmos segregados nesses campos, adoecemos... pois uma parte não vive sem a outra. Se uma delas vai mal, todo o resto desequilibra.
Mas conscientemente ninguém quer ficar doente... a maioria não tem noção da segregação... Então onde está a culpa?
Ver de perto a doença nos faz muito mais compassivos, altruístas, fraternos.
Humanos dentro de um hospital, passando pela mesma dificuldade, tornam-se mais solidários. Com poucos dias de convivência, fazemos amizades com pessoas que normalmente não faríamos no nosso dia a dia... ou por falta de interesse... ou por falta de tempo... ou por desconfiança... ou por orgulho...
O mundo, por mais adoentado (e com característica de hospital), não nos possibilita essa comunhão, infelizmente... As pessoas estão mais desumanas, mais frias, mais indiferentes, mais endurecidas - consequentemente mais doentes.
Dentro de hospitais é que distinguimos nitidamente a humanidade de um ser humano. Há enfermeiros e médicos gélidos e sem paciência... mas há aqueles profissionais que, apesar da rotina de doença e morte, conservam sua empatia intacta. É devido a eles que conseguimos ter mais esperança nas pessoas.
Acompanhantes de enfermos e os próprios enfermos contam suas histórias... histórias de luta, dor, traumas e alegrias do passado... Nessas horas eu reflito: o sofrimento não é uma escolha... mas, sim, a incompreensível condição da ignorância do Ser.
Quanto mais sabemos de fato quem somos, menos sofrimento sentimos, apesar da dor. Ou seja, vivenciamos a dor sem sofrer, já que entendemos o que somos.
Hospitais não são apenas centros de reabilitação ou cura de enfermos...
Hospitais são encontros de vidas, histórias, dores, aflições e alegrias...
Você entra egocentrado, e sai de lá sensibilizado... abençoando sua vida, respeitando a morte, compreendendo as pessoas e cuidando mais de si mesmo.
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