A prisão de ser livre


A vida nesse mundo é dolorosa.

A vida é dolorosa para a maioria por causa das vicissitudes, dos altos e baixos, de não ter o que se quer ter... e não conseguir fazer o que se quer fazer...

Já a mim, a vida é dolorosa pelas superficialidades ao meu redor.

Quanto mais profunda me torno... quanto mais sentido tem o Ser... mais sem sentido o mundo fica. E por mais que eu procure uma ponte que me ligue às pessoas e a esse universo, a ponte se desfaz em pouquíssimo tempo. Nada dura, pois a fugacidade da superfície não abarca a profundidade da alma.

Tento ser normal, ser parecida ou integrada ao meio, mas meu centramento nos valores e na integridade me afasta sempre dos que se guiam pela ilusão e pela amoralidade cega. (Admirável Mundo onde selvagens são atrações de circo...)

Sim, amoral e fútil é o que a humanidade se tornou.

Hoje em dia, o que era para ser moral tornou-se preconceitos e conceitos tacanhos... que os que sentem aversão a isso fogem para a amoralidade e imoralidade travestidas de "liberdade" ou "direitos". Ou seja, o "sujo" critica o "mal-lavado" e vice-versa. 

As pessoas continuam presas em seus pensamentos daquilo que acreditam ser liberdade ou felicidade. As pessoas continuam presas e encalhadas nas superfícies arenosas de suas mentes condicionadas. 

Racionalismo e instinto... eis os nomes de seus condicionantes. Por um lado segurança, pelo outro prazer. Em uma dessas ratoeiras é que os indivíduos caem. Muitas vezes nas duas, gerando maior conflito.

Não há ponte; não há contato; não há tradução que me aproxime do mundo. Cada tentativa é um tiro n'água. 

A Vida é tão grandiosa e extraordinária, que esse mesmo mundo nubla o seu brilho. E o que as pessoas em geral apreciam são só nuvens com suas formas variadas. O que está por trás delas quase ninguém tem interesse em descobrir.

Gosto de humanos... Mas onde eles estão? Já não mais os vejo, pois não são mais essências, e sim frascos e rótulos ambulantes.

Pessoas não são mais almas; viraram arquivos e folders. São apenas informações e propaganda, que até a poesia se tornou marketing pessoal.

Minha dor maior não é ser um alguém desprezível pela sociedade e o status quo... minha dor maior é estar cada vez mais livre, presa num cativeiro de artificialidades e papéis. 

Porém não significa que não haja mais esperanças na humanidade. Isso porque enquanto existir humanidade em mim, existirá alguma possibilidade de encontrar em outros. E ainda que não exista mais nos outros, lutarei pelo o que restar em mim.

Sou medíocre como ser social... um fracasso como ser funcional... exatamente porque a consciência da Consciência que eu sou me tornou completamente descabida num mundo fútil, materialista, de imagens, máscaras, libertinagem, performances e aplausos. 

Descer a montanha é muito mais árduo e perigoso. Inúmeras são as tentativas, mas as quedas são constantes... algumas mortais. Há momentos em que não conseguimos mais ver alternativas; nos tornamos prisioneiros de nossas próprias visões de longo alcance.

A grande ironia é que talvez não seja eu a estar presa em um reality show... 

Talvez eu seja a única a estar liberta dele. Por isso a separação entre mim e o mundo...

Comentários

Postagens mais visitadas