A Cruz e o Cálice
Será realmente que todas as cruzes recebidas estão de acordo com o que conseguimos suportar?
Hoje questiono isso.
Toda cruz é pesada. Podemos aguentá-la durante um tempo em nossos ombros, mas apesar de suportarmos o peso, o tempo faz desgastar o corpo. Quanto mais longo o "esforço", menos força teremos no percurso.
A cruz nos é dada... e aqueles que nos dão dizem que merecemos, que devemos suportá-la, que fomos nós que pedimos, que a culpa foi nossa.
Nunca fui santa, iluminada ou perfeita e sempre quis mostrar isso claramente. Minha intenção foi expor minhas falhas, mesmo vivenciando um processo espiritual intenso e incompreendido.
Porém, ironicamente muitos lhe colocam num pedestal, numa redoma - ou como veneração, ou como sadismo. O propósito é me "amar" ou odiar; admirar ou jogar pedras.
Não basta minha boa intenção e afeto... a difamação sobre mim sempre ganha.
E ainda que o afeto por mim exista... a indiferença é vitoriosa.
Desafios nos são dados, mas a exemplo de mártires, eles tinham os deles e sempre acabava em morte.
Podem me chamar de fraca, não me importo. Acolho o sentimento de cansaço e não me culpo. Assumo meus pensamentos sombrios.
A vida inóspita me deu sensibilidade. A subida ingrime me deu visão de longo alcance. A solidão me deu independência espiritual.
Cresci como ser humano, no entanto me tornei inútil em um mundo insensível, cego e dependente. Isso porque a insensibilidade é uma defesa, a cegueira uma segurança e a dependência uma conveniência.
Pessoas que não me compreendem dizem: "Olha a fracassada!". Nessa sociedade nada sou, e portanto, desacreditada. Para ser alguém de respeito e valorizado você precisa ter aquisições, ter um emprego estável, uma profissão enaltecida, constituir família, ter muitos amigos, ou simplesmente ter a vida garantida.
Não é errado ter essas coisas citadas, mas caso não se tenha, você se torna o sujeito mais errado do mundo na visão da maioria... um "bug" no Sistema.
Valores humanos, princípios, integridade, moral, honra se tornaram supérfluos. Todo mundo acredita ter em si, sem se aperceber que são apenas preceitos mentais e culturais, obedecidos como mera imagem a zelar. Contudo, com um "Anel de Giges" as pessoas mentem, agridem, assediam, humilham, desprezam, invejam, difamam de forma cruel.
Quem hoje tem coragem de ser honesto, de dizer o que pensa ou sente? Não devemos ofender ninguém, mas zelo muito mais pela sinceridade do que a falsidade das máscaras sociais, do venenoso "aperto de mão".
Acusam-me de vitimista, ingrata, egoísta, arrogante... mas são esses mesmos que me acusam que se utilizam do "Anel de Giges" e se divertem com a "invisibilidade".
Podem me chamar de fraca, pois fraca é um direito meu em ser...
Já que ao ser forte e resistente me torna cada vez mais prisioneira da crueldade ou da omissão do mundo ao meu redor.
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