Notas do "Segundo" Andar
Escritores devem ter algo em comum: ao lerem seus próprios livros após algum período de tempo, sentem uma espécie de encabulação.
Assim eu estava recentemente. Folheava algumas páginas dos meus livros e me envergonhava de algumas confissões e visões.
Isso talvez ocorra porque mudamos constantemente. Principalmente nós que estamos em um processo contínuo de amadurecimento e elevação consciencial.
Mas estranhamente, hoje peguei um dos meus livros e comecei a lê-lo com atenção, como se eu fosse uma leitora qualquer.
Lendo aquelas vivências e sentimentos, o que me veio foi uma impressão completamente diferente. Eu, como leitora de mim mesma, me emocionei e senti admiração.
Isso pode soar como vaidade, mas não... Olhei para aquele livro em minhas mãos e pensei "Eis aqui uma expressão genuína de um despertar espiritual". Entre trancos e barrancos, êxtases de felicidade e amarguras, aquilo era a minha vida, independentemente se mal escrito ou não.
Independente das minhas ilusões, minhas frustrações, meus erros, lá estava eu transformada em letras e expressões.
Emocionei-me ao ler minhas homenagens a mestres e indivíduos dos quais me inspirei nesse processo de individuação. Novamente é como se eles me dissessem "Confie em você! Siga em frente e boa sorte!"
Tirando a minha fase de adolescência, aos 16 anos, que foi quando ocorreu meu primeiro Despertar Espiritual espontâneo... há exatamente dez anos eu iniciava esse processo doloroso, radical e árduo de integração Ego e Consciência.
Por "sorte", desde o início dessa experiência, fui registrando as explosões de insights que eu tinha. Sem eu saber, era uma maneira natural de integrar o meu Self, colocando para fora o que estava escondido no meu inconsciente. Foi então que nasceram meus três livros.
E quem diria... lá no meu inconsciente estava o meu arquétipo de heroína, sábia, mestra, mãe... líder... etc. Tudo o que eu menos imaginava de mim - e em mim.
Era óbvio que acordando vários desses arquétipos, a Vida me colocaria num desafio típico de odisseias de livros e filmes... Era óbvio que eu não iria mais viver uma vidinha medíocre e sem sentido; era preciso vencer os inimigos (internos e externos).
E quantos inimigos! E quão cruéis!
Meu maior inimigo interno era a desvalia; meus inimigos externos, aqueles que me querem por baixo. E ainda que os externos ainda existam, eles não mais me fazem sentir uma medíocre - pois já sei quem eu sou e qual o meu propósito.
Existem sempre duas possibilidades de finais de uma história na vida de alguém: ou ele vira vilão, ou ele vira herói. As dores são as mesmas, as dificuldades inúmeras, mas vai depender de cada um se transformar em um ser vingativo ou em um ser digno.
Quando nos transformamos em seres dignos, sabemos que não importa o tamanho do desafio, nos manteremos firmes em nossa luminosidade. O sofrimento não escolhe pessoas, mas são as pessoas é que, ao sofrer, escolhem o seu caráter e valor.
Presos em um cativeiro invisível, aprendemos a sobreviver e a jogar o jogo. Aprendemos a usar os escudos e as armas simultaneamente, e a usar nossos poderes para salvar outros indivíduos dentro do jogo.
Leio hoje o meu livro e vejo as fases das quais passei na jornada desse despertar.
Não mais me envergonho delas; as honro com admiração.
Comentários
Postar um comentário