Ad Astra Infinitum
Artistas são como médiuns.
Dependendo do médium, ele irá captar mensagens do baixo astral, ou do astral superior.
Inspirações de arte são como incorporar algum sentimento vindo do além, fazendo manifestar aqui algum tipo de consciência... muitas vezes nem compreendida pelo próprio "canalizador sensitivo".
Pego como exemplo os escritores. Quando eles se inspiram em escrever uma história, constantemente serão "utilizados" por alguma Mente Maior para passar uma mensagem. Mas por ser uma Mente Maior por trás a inspirá-los, vez ou outra, não apreenderão o profundo significado da história - mesmo que sejam eles a escrevê-la.
Vejo isso ao interpretar muitas histórias de filmes ou livros, ao enxergar muito mais com meus olhos espirituais. Isso porque os olhos mentais não alcançam o sentido mais abstrato.
Existem muitas camadas de interpretação de uma obra, e mesmo que nenhuma esteja totalmente incorreta, quanto mais profundidade se tem dentro de si, maior é o seu poder de compreender uma arte complexa e filosófica.
Dentre várias histórias em que interpretei um sentido mais profundo, a do filme "Ad Astra" é uma delas.
Não é uma obra para qualquer pessoa, já que condicionaram a mente da maioria a boiar na superfície. "Enredo chato e previsível" diria o racional... porém um show de espiritualidade àqueles que têm olhos para ver.
Ad Astra, em sua roupagem, é uma história de um astronauta em busca do pai perdido no espaço, sofrendo de conflitos psicológicos. Durante o caminho se depara com dificuldades e obstáculos, típico à Jornada do Herói.
Contudo, a Jornada do Herói em questão, não é uma mera jornada de superações na vida terrena... mas uma detalhada jornada hercúlea em busca do DIVINO.
Roy, o personagem interpretado por Brad Pitt, é o típico buscador espiritual solitário. Não há conexão dele com a vida do planeta Terra e suas relações teatrais, sentindo dentro de si uma vontade pelo Alto.
Ainda que o diretor negue que tal personagem seja um autista leve, há vários indícios que demonstrem isso, ao mostrar sua aversão a toques físicos, sorrisos falsos, convenções sociais, dificuldade de comunicação e emoções suprimidas pela racionalidade fria. E ainda que esse ponto não seja tão importante na narrativa, o que vemos no filme é o cansaço de Roy da superficialidade e do conflito do mundo.
Nesse mundo sem sentido, o buscador espiritual sente-se muitas vezes abandonado por Deus (pai), e parte rumo à sua jornada interna para entendê-Lo. A viagem ao espaço de Roy é a viagem ao nosso eu interno, ao desconhecido, ao Mistério.
No mundo terreno perdemos o contato (ou a conexão) com a Fonte Divina (pai). Assim como o espaço é uma escuridão infinita, o universo interno também é escuro, e quiçá, infinito.
Em uma cena, no início do filme, Roy cai de uma torre gigantesca de onde ele trabalhava e fazia sua manutenção, após um flash de onda eletromagnética. Essa metáfora não me passou despercebida, já que um dos Arcanos do Tarot - A Torre - mostra claramente um raio acertando o seu alvo e fazendo rei e rainha caírem dele. Essa carta significa que o homem se tornou prepotente e egoísta e que a Lei Divina sempre o faz cair de sua altivez.
Após a queda, o homem com seu arrependimento se salva, e é chamado a buscar pela redenção. É nesse ponto que começa a Jornada do Herói Espiritual em busca do Real.
Mas o herói-buscador precisa passar por etapas e muitos desafios durante o caminho. Roy é acompanhado até a base da Lua, com uma espécie de "amigo do Pai", que poderíamos interpretar como um guia, mestre ou anjo-mensageiro. Nessa etapa, eles encontram os obstáculos e os inimigos - aqueles que não querem que você transcenda e encontre a Verdade.
Escapam com muita dificuldade, restando apenas eles dois... coisa que remete ao dito de que o caminho espiritual é deserto e estreito - e só sobrevivem os fortes. A partir dali, o próprio guia não pode mais acompanhá-lo, fornecendo apenas um comunicado do "pai". A busca espiritual sempre foi e será solitária após determinado ponto.
Durante a busca, o herói se depara com a ira e se vê nela, consegue ter autocontrole emocional em situações drásticas, e consegue descobrir a "localização" do objetivo, abrindo-se emocionalmente e honestamente a ele. Ali mostra que a Razão nunca conseguiu se conectar com o divino, mas sim, o Coração.
Pessoas continuam tentando impedi-lo de chegar ao que ele procura, mandando-o voltar para casa, ou seja, à mesmice da vidinha ordinária. Mas ele, buscador, não desiste. E mesmo contrariado, e querendo "pegar carona" com outros, precisa ele mesmo pilotar (sua vida) até o seu destino.
Finalmente ele chega ao seu destino. A dor do encontro é enorme... mas também o amor. O herói quer levar de volta para casa a vivência desse encontro, mas a Verdade (pai) não pode ser possuída. Ela é livre e solta no Universo infinito.
A decepção de saber que não podemos abarcar o sentimento tão grandioso de Deus, nos faz desistir de viver. Nada mais na vida faz sentido... a não ser Ele. Mas Deus mostra que é preciso largá-lo e abandoná-lo para voltar ao mundo e amar verdadeiramente. Ele praticamente diz: "O seu amor por Mim nada significa se não consegue amar seus semelhantes".
Ficamos um período inertes, apáticos e em depressão pós-êxtase espiritual... Perdidos e sem rumo no espaço. Mas, após esse período flutuante, recuperamos a força de vontade e juntamos energia para voltarmos à vida mundana da Terra. Novamente temos que enfrentar os desafios, as pedras pelo caminho, até conseguir chegar inteiros ao mundo em sociedade e pôr os pés no chão.
Quando o herói de Platão volta à caverna, ele volta diferente. O sentido na vida se torna completamente outro, ainda que aparentemente nada mude na caverna. Todo herói que volta de sua vivência transcendente entende que, mesmo que os habitantes da escuridão da ignorância o agrida ou o hostilize, tem a missão de mostrar um pouco da Consciência que surge do encontro momentâneo com o Divino.
E mesmo que tenha que iniciar outras jornadas, cada vez mais intensas e complexas, sabe que não há escolhas, a não ser servir ao Todo.
Viver e amar...
Pois viver sem amor não é vida... e amar sem viver como humano é sem propósito.
Ad "Astra" infinitum.
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