Qual o sentido de sermos Heróis?
Sabe como eu vejo a minha vida?
Como a jornada de um herói.
E sabe o porquê? Porque a cada ciclo meu de vida, desde nova, eu superei sozinha vários obstáculos até chegar ao grande ciclo de ouro: o do Despertar da Consciência.
Antes do Despertar eu era só mais uma sobrevivente. E como competidora nesse mundo de imagens e status, uma perdedora. Porém, uma perdedora que sobrevivia.
Quando criança, eu me comunicava melhor com o mundo abstrato. Meus reais amigos eram os elementos da natureza (animais, árvores, vento, montanhas, chuva, etc.) e uma criança invisível - fruto da minha imaginação (ou não).
Já na adolescência, eu via a vida nesse mundo como algo sem sentido. Percebia as coisas e as pessoas como falsas, num enorme teatro inconsciente. Com dezesseis anos eu não queria mais seguir padrões, mas também não queria ser uma rebelde declarada. Eu queria ser diferente, sendo eu mesma.
Foi por causa disso que o "Sidarta Gautama" que havia em mim sai à procura de respostas, renunciando às convenções tradicionais e sujeitando-se a uma vida sem identidade.
Minha função como operária em fábricas era o extremo oposto do que se é esperado de uma garota de classe média média. Mas como a remuneração era alta, quase ninguém falava nada sobre minha escolha. Talvez fosse preciso mergulhar fundo em um mundo sem qualificação para emergir em mim a verdadeira qualificação humana: a Consciência.
Foram anos e anos experienciando uma vida que em nada correspondia ao meu ser, para fugir de outra que me aprisionaria ainda mais no ego com suas imagens, vaidades e apegos. É claro que nem todo mundo que possui respeitabilidade e reputação é egocêntrico... mas quantos dentre eles alcançam a Consciência Superior - uma sabedoria intuitiva inata? Raríssimos.
É a partir dessa vidinha medíocre e invisível que se inicia minha ascensão como heroína numa jornada épica.
Heróis, no geral, a princípio, são indivíduos medíocres e comuns - quase invisíveis socialmente. O sinal de que você está ascendendo como um herói ou heroína, é quando - apesar das dificuldades, problemas ou desafios - começa a se destacar dos outros em sua potencialidade única. Você toma consciência de uma qualidade peculiar de seu Ser, que consecutivamente os outros começam a enxergar - assim como a sentir admiração ou raiva.
O herói não é aquele que lhe dará a "receita da felicidade", mas sim, o exemplo de ser verdadeiro, honesto, corajoso e íntegro... independentemente de ser rejeitado ou não.
Outro sinal de que está despertando o herói em você, é a sua autonomia psicológica... ou seja, a sua capacidade de ser excluído de grupos de crenças, ideologias e conceitos, não se deixando corromper em sua individualidade. Sua força e garra como guerreiro deve estar, acima de tudo, em sua integridade, honra e dignidade. Pessoas que ainda dependem emocionalmente da aceitação alheia e de suas opiniões, não despertaram o herói em si.
A heroína que há em mim sabe de sua missão, ainda que o mundo não a compreenda. Olhos mundanos não a enxergarão; apenas os que já possuem a "chama divina acesa" a verão.
Ela aceitou o Chamado à subida da montanha íngreme. No começo quis levar pessoas com ela, mas entendeu que o caminho era solitário... E que quanto menos ajuda recebia, mais alto ela subia a montanha. A heroína subiu ao topo de uma alta montanha. Não a mais alta, mas alta o suficiente a uma mudança drástica de vida.
E ao chegar ao topo, percebeu que teria que descer. O que ela não sabia era que o descer seria tão difícil quanto o subir. A dificuldade do subir é que você necessita deixar "seus pertences e suas pesadas bagagens" para trás. Porém, no caso da minha heroína, ela já não tinha muitas bagagens, o que facilitou o seu desprendimento.
Então, talvez a dificuldade maior dessa guerreira esteja na descida, já que ela nunca conseguiu se adaptar bem em níveis mais inferiores, ou aterrissar de fato em planos térreos. Talvez sua dificuldade seja a de compartilhar à maioria suas visões do desconhecido... sem que leve pedradas, chutes, olhares de desprezo, ceticismo e desdém. Afinal... "Quem é ela? Uma ninguém!"
A heroína descobre, então, que para ser ouvida e reconhecida, era preciso ser "alguém", socialmente falando. No mundo térreo, apenas diplomas, troféus, medalhas, pódios, aquisições "provam" que você é um alguém de valor. E se você não tem essas "provas", você não tem o direito de apontar o caminho da verdadeira liberdade e poder.
Mas ela, mesmo não querendo se resumir a um mero papel selado, adotou para si o "papel" de Terapeuta Holística. Menos mal aos olhos mundanos, mas não, o suficiente. Ela ainda estava à margem da sociedade.
Para agravar mais um pouco, dentro dessa função "marginal" de terapeuta, ela se viu à margem da margem... Ou seja, mesmo no meio alternativo, ela foi vista com pré-conceitos.
O retorno na jornada do herói possui muito mais desafios, porque o elixir que você adquiri é visto como uma ameaça ao status quo. Integrar-se novamente como um cidadão comum, estando com seu poder legítimo acionado, é se desdobrar para adaptá-lo ao mundo normótico. Mostrar ao mundo que o poder único de cada um existe - e que as coisas por trás dos bastidores não são flores e confetes - é mostrar que as pessoas terão que abandonar suas zonas de conforto de ilusões arduamente construídas.
Aquela imagem narcisista de "eu tenho, eu sou isso, eu faço aquilo, eu, eu , eu..." precisa ser demolida para que o verdadeiro Ser surja com o seu poder. E isso a maioria não quer... pois quanto tempo, energia e dinheiro foram gastos para se construir a persona admirada e aplaudida pelo coletivo? Antes morrer com o que décadas se construiu de falso, do que descobrir a Verdade e o seu real propósito de vida...
Mas não me entenda mal... Para ser herói não é preciso radicalizar, destruindo tudo o que você (ilusoriamente e exclusivamente) construiu. Mas é imprescindível que você priorize a descoberta do seu ser real - aquele que veio com uma missão maior de vida.
Será dentro do que você é - como Ser Real e de sua missão - que a vida terrena e material irá se encaixar... não, o contrário. Se está bem no seu emprego, ótimo. Apenas não se esqueça da sua real função como humano e espírito e trabalhar isso paralelamente.
A heroína que há em mim não irá lhe salvar dos reveses ou percalços, mas irá mostrar o potencial de herói que há também em você.
E por que ser herói? Qual a função e o sentido disso?
Bom... o maior ato de heroísmo é ser quem você realmente é, e mostrar ao mundo a que veio.
Você está sendo quem você é, ou apenas o que a sociedade ou os outros querem de você?
Despertar o arquétipo de Herói em nós, é INTEGRAR o ego (personagem) no self (Consciência), adquirindo uma nova função muito mais sábia e produtiva a ele. Só Ego: destruição; só Ser: disfuncionalidade social.
Retornar da montanha com o elixir é uma batalha heroica.
Mas só os que retornam entendem isso.
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