Quanto mais perto, menos visível


O "problema" de ser verdadeiro é que você se torna cada vez mais simples. E essa simplicidade muitas vezes o transformará em um alguém tão comum, que os que convivem e possuem intimidade com você não notarão o seu dom ou o seu nível de consciência.
Existe uma passagem na Bíblia em que mostra Jesus sendo rechaçado e expulso de sua própria cidade, exatamente porque ele era conhecido pelo povo de lá, desde novo. Não enxergavam seu potencial simplesmente porque era um alguém muito próximo de seus convívios - um "semelhante" apenas.

Esse tipo de comportamento é visível também nos dias atuais. É como se para ser reconhecido você precisasse ser um alguém distante, de uma hierarquia superior e de uma respeitabilidade pública adquirida... como se sabedoria, talento e entendimento fossem qualidades somente de especialistas e autoridades.
Quando mergulhamos fundo no processo espiritual e de autoconhecimento, um dos maiores requisitos para a elevação da consciência é a renúncia ou o despojamento de nossas poses e imagens a zelar. Portanto, um indivíduo que esteja verdadeiramente neste caminho, não se fará de superior, mas sim, de irmão e amigo aos seus próximos. A maestria de uma pessoa se dá de forma natural, e ironicamente reconhecida por outros que não a tinham em seu convívio. 
A etapa de elevação espiritual que eu vivencio no momento, é a de manifestar inteiramente e honestamente o que eu sinto como ser humano. É uma etapa onde não somos mais totalmente guiados inconscientemente pelos nossos instintos e condicionamentos, tampouco fingimos ou interpretamos um personagem evoluído e com pose de guru. Nessa fase assumimos completamente nossa humanidade com suas falhas, sem construir qualquer tipo de ego espiritualizado. 
Chamo essa fase de "retorno à inocência", em que a transparência ou sinceridade das crianças ressurge em nós, com o diferencial de estarmos maduros e mais lúcidos. Poucos são os que passam por essa fase, já que a mente tenta sempre aparentar aquilo que os outros admiram e respeitam. Eu diria que voltar à inocência são para os corajosos que não têm medo de mostrar aquilo que são no momento.
Devido a eu me mostrar como sou/estou, de modo consciente, muitos com quem convivi ou convivo não conseguem enxergar o meu grau de percepção e profundidade espiritual. Alguns até sentiam raiva das minhas visões e tentavam me nivelar por baixo, não admitindo que eu tivesse uma observação mais apurada de algo.
O real despertar espiritual começa por renunciarmos todos nossos comportamentos padronizados de personagem (máscaras), para depois, através de ensinamentos de mestres, começarmos a adquirir atitudes aparentemente maduras e conscientes. Porém, na maioria das vezes, essa etapa é a grande armadilha na caminhada das pessoas, pois essas atitudes supostamente mais conscientes são na verdade outro artificialismo criado pela mente. Elas acreditam que estão se elevando, mas na verdade, é outro condicionamento do ego - mais uma máscara.
Por isso, muitos se deixam enganar por imagens de pessoas com um personagem espiritualizado, "zen", bondoso, compassivo, ou simplesmente com um ar de mestre. 
Ser de fato aquilo que você é/está, conforme seu nível consciencial, e transparecer o que realmente sente, é o grande desafio dos que adentraram no processo de despertar - independentemente do nível.
Se Jesus, em seu pleno poder divino, foi incompreendido em suas atitudes polêmicas, assustadoras e contundentes, eu, com minhas limitações e falhas, serei muito mais.


Uma lição que tenho aprendido durante esse processo espiritual é que a falta de reconhecimento das pessoas mais próximas ou íntimas, é uma pedra no sapato que eu preciso aceitar. 
Isso porque o único reconhecimento válido terá que vir de mim...
Até porque... Deus já me reconhece.

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