A normose hedonista



Observo constantemente a mente humana fazendo conclusões precipitadas simplesmente porque ela não consegue enxergar as coisas de uma forma quântica.

O que eu quero dizer com isso?

O que eu quero dizer é que a mente é sempre dual; ou enxerga "zero" ou enxerga "um". Ver a vida de forma quântica é entender que o "zero" e o "um" ocupam o mesmo espaço, portanto podem ser os dois.

Isso ocorre demasiadamente de modo frequente quando aponto um aspecto "A", e aí as pessoas já entendem erroneamente que eu sou contra o "B" - ou vice-versa. E isso, confesso, é cansativo.

Talvez nesse quesito, Buda tenha sido o sujeito menos compreendido do mundo, já que ele vivenciou plenamente o Caminho do Meio. 

Não sou e nunca fui budista, mas trilho esse caminho.

Compreender o Caminho do Meio não é ser o tempo todo (24 horas por dia) nem uma coisa ou nem outra. Essa visão também é bem equivocada. Não é ser "morno", como muitos cristãos podem pensar. Muito menos ser "isentão" ou "em cima do muro" como hoje em dia é moda dizer; mas é ser justo.

O Caminho do Meio seria estar lúcido e consciente a cada instante. Por exemplo: você pode olhar uma situação e agir de forma drástica ou de forma tranquila, dependendo do que a sabedoria inata em nós disser o que é melhor. Mas você não vai ser sempre de um jeito único como se seguisse uma regra. Você será flexível e coerente naquele momento, de acordo com a Consciência Superior. Como muitos mestres já diziam, não é REAGIR, mas, sim, AGIR. E o agir é sempre consciente; o reagir sem consciência.

Claro que o ego em nós ainda predomina a maior parte do tempo, mas ainda assim, quando atingimos um certo grau de Consciência Maior, já não vivemos essa unilateralidade constante e extremista. Começamos a VIVENCIAR o bom senso.

Por mais que pareça que eu queira falar sobre a polaridade da política, das crenças religiosas ou das filosofias, a motivação em escrever sobre isso é porque sinto uma incompreensão das pessoas sobre a minha visão de mundo e o meu sentimento mais profundo de alma. Elas se irritam e me colocam como inimiga.

Desde criança enxergava a superficialidade da vida em sociedade. Muito nitidamente via a valorização das coisas materiais, moda, grifes, status, reputações, personalidades extrovertidas... e a total desvalorização do Coração de cada indivíduo. 

Quando falo "Coração" não estou me referindo a sentimentalismos e nem àquela bondade condicionada por dogmas religiosos ou tradição cultural (ainda que tenham seu grau de importância). Quando falo "Coração" estou falando da Essência amorosa e inocente que poucos conservam, e muitos, nem ao menos sentem em si, apesar de a terem.

Viver pelo Coração é saber discernir e priorizar as coisas da alma, ser genuíno, ter humildade, compreender que a vida é muito mais do que a ostentação de prazeres e acúmulo de troféus ou certificados.

Viver pelo Coração é saber se valorizar primeiramente pelo ser autêntico que se é, muito mais do que pelas conquistas e aquisições no mundo. 

Porém, quando falo que é mais importante e prioridade, a mente senso comum estranhamente entende que eu desprezo e odeio as conquistas mundanas.  Ou seja, ela não consegue compreender que, valorizar as coisas da alma não é considerar as demais como a lixo.

É óbvio que há comportamentos, crenças e conceitos realmente fúteis e prejudiciais. Há uma hipervalorização em questões em que a humanidade declina moralmente, tornando-se robôs ou animais selvagens. E, mesmo sempre considerando que deveríamos ter condições dignas e confortáveis de vida, materialmente falando, o VIVER PARA TER nunca fez qualquer sentido para mim. O VIVER PARA SER é de longe o maior propósito de um verdadeiro humano.

Mas parece que "viver para ser" não é compreendido pela maioria das pessoas. Muitos acharão que esse tal "ser" é o ego, a personalidade, o indivíduo com seus gostos e aversões.

O paradoxo é que quanto mais o ego, a personalidade - esse indivíduo dominado por desejos - estiver firme, forte e presente, menos se viverá para ser. No geral, pessoas vivem um avatar em um jogo, sem saber que são jogadores. Elas se identificam 100% com o avatar, virando zumbis de um programa. 

Ser receptivo à prosperidade material e ter gratidão por ela é uma coisa... Ser um sujeito hedonista, exibicionista, apegado aos prazeres, é outra bem diferente.

O estranho também é eu ver muitos se acharem "bons" e cheios de moral somente porque ajudam outros, materialmente falando. E ainda que a ajuda material seja válida até certo ponto, observo que essa ajuda é muito mais um desencargo de consciência para que se possa justificar a negligência em se libertar do seu egolatrismo. Seria como "eu faço o mal, mas vou à igreja e rezo".

Eu nunca fui contra o dinheiro, a riqueza ou o prazer, mas sou contra o vício e o engrandecimento narcisista de se priorizar a imagem e o poder através de tudo o que é transitório.

A questão é aprendermos a diferenciar o falso do verdadeiro, o secundário do primordial, o fugaz do eterno... Mas para o ego a vida está baseada, exclusivamente, em ganhos materiais e intelectuais.

Sim, até o intelectualismo é uma aquisição a qual, se não tivermos Consciência e Sabedoria, faz do ego um ser arrogante, prepotente e desumano. Contudo, novamente, por eu falar que há algo mais importante do que o conhecimento, mentes entenderão que o que estou dizendo é que, o intelecto, a lógica e o conhecimento não valem absolutamente nada... que o estudo é besteira... 

Até mesmo a espiritualidade se torna ilusoriamente uma aquisição, em que pessoas se utilizam para obterem controle sobre os outros e alimentarem seu ser narcísico. O autoconhecimento e o desenvolvimento espiritual também não podem virar uma obstinação ou um objetivo a ser alcançado como se fossem uma corrida ao pódio. A vontade nunca deve ser da mente, mas sim, do Coração... e sendo do Coração, ela é natural e legítima.

Por isso, toda obsessão e supervalorização de tudo o que vem exclusivamente do mental será tóxico e cegará o ser humano do essencial. O movimento natural do nosso ser é a integração da parte divina com a humana. É estar no mundo sem ser do mundo. É dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. 

Precisamos do ego, da vida material, viver em sociedade, adquirir conhecimentos... Mas, principalmente, entender que o sentido da vida é muito mais do que isso.

Ao falar também que a ostentação e o exibicionismo de prazeres materiais é superficial e fútil, muitos entendem que estou censurando todo e qualquer tipo de compartilhamento e postagens de vídeos ou fotos na internet. Outra vez a inflexibilidade mental entra em cena. 

Meu apontamento não é o simples mostrar e compartilhar, mas, sim, o que está por trás do desejo disso. Qual a necessidade? É a dependência de elogios e likes? É por querer competir?

Há pessoas que não possuem essa motivação, mas há de se convir que a maioria tem.

Se você tenta ser aquilo o que a maior parte da sociedade aplaude e admira, é bem provável que esteja indo com a manada em direção ao abismo, ou seja, se distanciando de si mesmo.

O mundo está doente e seu modus operandi é narcisista. Seus valores são meramente de vaidade e hedonismo.

Não adiantou vir um ser elevado como Jesus, Buda, Krishna e outros, caso a humanidade ainda os considerar exemplos inalcançáveis. É mais fácil dizer que são "Deus encarnado na Terra" e colocá-los em um pedestal para apenas venerá-los dia e noite, do que realmente seguir seus ensinamentos.

Sim, podemos não ser perfeitos, mas estamos nos elevando gradualmente. No entanto, para nos elevarmos é preciso retornarmos ao Coração - ao ser verdadeiro que somos. 

Enquanto idolatrarmos o ego não seremos esse coração...

Seremos mediocremente fachadas, adornos, cascas sem conteúdo. Seremos espaços vazios tentando nos preencher com transitoriedades ilusórias e banais.

Me perdoe se a sua mente ou ego se revolta com a minha visão de vida... Mas vou lhe contar um "segredo":  você não é o seu ego... você só está sendo ele, deixando-se controlar por ele.

Então, na realidade, ele, ego, está se revoltando contra Você mesmo.

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