Arquivo Morto


Pode ficar triste. Você tem todo o direito.

Eu o compreendo e não lhe julgo.

Sabemos o quão difícil é viver em um mundo onde só valorizam as externalidades como o corpo, o cérebro, a quantia, as funções, os papéis, o poder, as sensações e as crenças.

Também sabemos que não há nada de mal nas externalidades, mas, sim, no exclusivamente nelas - já que o exclusivamente traz desarmonia.

Infelizmente, você não pode ser você de verdade; você tem que ser o que é "adequado" ser - para ficar bem visto socialmente.

Será possível sermos autênticos em essência e ao mesmo tempo integrados em sociedade? A cada preconceito e discriminação vividos, mais constato que não. É como água e óleo - não se misturam.

Vejo o quanto você quer se manifestar plenamente, mas ao dar o seu parecer, palavras duras, apontamentos extremistas, olhares de raiva, críticas arrogantes o jogam novamente ao ostracismo e à solidão daqueles que apenas querem ser singelamente eles mesmos.

O mundo só permite que você seja "um pouco você", caso siga rigidamente os padrões impostos. Então, se você for muito esforçado fisicamente e mentalmente, der o suor e o sangue para ser um cidadão normal pagador de impostos, se formatar como um robô calculista e pensante, aí, sim, as pessoas lhe darão crédito, respeito e valor. Sim, devemos ser bons cidadãos responsáveis, mas a qual preço de nossa alma? Ao nível de perdê-la?

Ser um alguém na vida ou ser um vencedor aos olhos do Sistema é adquirir reputação pela vida financeira, fama, ocupação ou poder social. Ser um alguém na vida para você é ser aquele que consegue vencer o mundo, ou seja, um alguém que atua na materialidade sem se identificar - e se contaminar - com ela.

O primordial a você são as questões espirituais em sua forma mais legítima possível. Mas o mundo quer você competindo pelo pódio dele ou pertencendo a algum sistema de crença religiosa - de preferência tradicional.

Você não pode ser autônomo em sua caminhada espiritual; não pode escolher outro estilo de vida; não pode querer trilhar uma rota não-convencional como indivíduo. Porque se caso sair dos trilhos da tradição sistemática, você será desacreditado em tudo na vida. Não lhe darão o direito de falar, fazer, pensar, sentir... e muito menos de trabalhar naquilo que você ama ou sente mais afinidade - caso a atividade não seja considerada "normal". Fecharão as portas, proferirão preconceitos, desprezarão seus insights, ou o perseguirão até a sua morte social.

Tudo será generalizado negativamente sobre o que você atua ou mesmo é. Não há filtro e nem bom senso; há apenas rótulos, carimbos e caixas enquadrantes

Você, Coração, é taxado de fracassado e inútil, pois as pessoas não acreditam mais em virtudes como altruísmo, simplicidade, compaixão, empatia, humanidade... Virtudes para maioria são só condicionamentos religiosos ou familiares, e não, valores inatos de cada alma; de cada essência.

A sociedade não compreende mais a sua função. Ela o reprime porque não quer mais sentir dor, sendo que a maior alegria provém da sua pureza e inocência. 

A maioria enxerga você erroneamente como a um mero sentimentalismo afetivo barato; algo que está aqui somente para trazer sofrimento e desprezo.

As pessoas não o conhecem e não o veem como sua própria fonte da vida; sua sabedoria. Elas só querem ser um abarrotado arquivo morto de informações.

Pode chorar, querido Coração... 

Você, como o ser mais desprezado e incompreendido do mundo, tem todo o direito de ser você mesmo.

Que o permitam ao menos na sua hora de estar triste...

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