Mãe Natureza


Obrigada, Natureza, pela sua existência. 
Você é aquela que sempre esteve presente comigo, desde criança,  quando em meus momentos de solidão, sentada no balanço da chácara, contemplava sua companhia em meu entorno, sentindo o vento no meu rosto como se me acariciasse em dias de tristeza e acalentasse o meu coração. 
Aliás, tristeza era uma constante em meus dias de infância e eu achava estranho as outras crianças serem tão alegres e vivazes. Já, meus momentos de alegria eram ao seu lado, observando as estrelas no céu, as nuvens e suas formas, o dançar das árvores e o cantar dos pássaros. Sozinha, inventava canções para você, e você me correspondia com compaixão e acolhimento, sempre me compreendendo no âmago do meu ser.
Ainda me recordo que chorava escondida ao presenciar um animalzinho morto (um pequeno gambá) que eu fazia questão de providenciar o seu sepultamento, assim como chorava copiosamente ao ver uma árvore sendo cortada e tombada, sem ter mais o seu direito de viver.
Hoje em dia, talvez, minha alma tão calejada de dor e atrito tenha perdido essa facilidade em chorar, pois, é como se minhas lágrimas secassem pelo cansaço, e não, exatamente, por frieza.
Sinto muita tristeza em ver um animal silvestre em sua morte, mas o choro já não vem como antigamente. 
Pois é... Esses dias, como você bem sabe, tentei - junto de meu companheiro - salvar uma indefesa pombinha avoante, que estava completamente  debilitada, de um fim trágico: morte por fome e sede, ou por  ataque de algum predador. Fizemos o que foi possível, mas não conseguimos restabelece-la para que pudesse voltar à sua liberdade. Ela, infelizmente, veio a óbito. O sentimento de culpa que chega é inevitável, claro... mas fizemos o melhor que podíamos. 
No momento, as lágrimas não caíram, mas a frustração foi intensa. Pensei que tivesse perdendo a minha sensibilidade, porém, entendi depois que era como se as situações de morte em minha vida estivessem calejando dentro de mim. Quem sabe também, minha proximidade com a dimensão espiritual estivesse aumentando e, eu, internamente, comprendendo melhor - e realmente - que a vida não termina aqui? Afinal, acreditar é uma coisa, sentir e saber é outra.
Apesar disso, minha ligação com você continua forte, profunda e intacta. Você é meu alento nesse mundo tão bruto, denso e cruel, mesmo que na sua natureza também haja brutalidade. No entanto, a diferença é que em você não existe maldade como existe no egoísmo humano, e sim, pureza e inocência. Você é meu combustível para sobreviver nesse mundo tão cheio de arrogância, ganância , prepotência e vaidade.
Lembra de quando você me consolava através do mar e o barulho das ondas? E, quando, através de um maravilhoso cacto no deserto, você se compadeceu de minha tristeza e me tirou todo o negativo? Era como se me compreendesse totalmente, sem precisar de palavras. Foi também, me deparando com um altíssimo penhasco, que eu pude sentir o êxtase espiritual do Amor Pleno, e em outra ocasião, através de uma singela chuva, eu entrei alguns minutos no Nirvana.
Sabe... cada pássaro que visita o meu quintal para se alimentar me traz um contentamento tão grande que somente almas sem qualquer engessamento lógico conseguem sentir. A alegria pode ser achada nas pequenas coisas do nosso dia a dia, principalmente quando envolve a sua presença. Tomar uma chuva gelada num dia de calor extremo é como uma dádiva que pude receber de você - e eu só tenho a lhe agradecer. 
É você que me faz retornar ao meu ser simples e essencial... É de você que sinto vir um amor transcendente incondicional.
Eu só tenho a agradecer pela sua existência em um mundo cada vez mais frio, insensível e morto... um mundo demasiadamente utilitarista e mecanizado.
Obrigada, Natureza, por ser minha amiga, companheira, protetora, mãe... e minha ponte para as dimensões mais elevadas, sutis e verdadeiras.

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