Precisamos falar sobre o Ego


Nesses tempos, venho refletindo mais do que nunca sobre o que realmente somos e o que é o ego.

Cada vez mais vai ficando nítido o quão destrutiva é a identificação das pessoas aos seus personagens (o eu) e à exaltação a isso. E ainda que eu seja repetitiva, não me canso de dizer que a raiz de todo problema, ignorância e conflito no mundo é, com toda a certeza, o ego.

A questão é que quase ninguém sabe ou entende o que seja o ego. Em geral, interpretam a palavra "ego" a uma vaidade apenas, não compreendendo o sentido mais amplo e grave dele. E infelizmente, hoje, até os próprios orientais não diferenciam mais o ego do Ser, mesmo que suas filosofias falem o tempo todo disso. 

Quanto maior a identificação a essa persona, mais "fortes" e "poderosos" os indivíduos se sentem, não entendendo que essa suposta força e poder, na realidade, é um prazer egóico fugaz e superficial. 

Porém, a verdadeira força nunca se manifestará através do ego, pois, esse, é puro medo, insegurança, ira e dicotomia. A maioria pensa que força significa CONTROLE, e esse tal controle está em todos os campos e áreas dos quais podemos imaginar, não somente nas questões políticas ou de autoridade, mas no simples desejo de cada ser humano em querer controlar sua vida.

É claro que necessitamos ter planos e metas em nossas vidas, agir para alcançar objetivos nesse mundo físico... mas querer controlar a tudo e o tempo todo é um comportamento totalmente de ego, no qual apenas se enxerga as coisas de forma materialista, racionalista ou de terceira dimensão - e no pior dos casos, esse controle exacerbado se torna um transtorno narcisista. Enxergar a vida exclusivamente através dos olhos da persona é desprezar o fluxo do Universo e a conexão com o nosso Ser (Consciência).

Grande parte das pessoas demonstra a suposta força tentando ser frias e racionais... tentando evitar o contato com suas emoções e sentimentos. E isso, pelo contrário, somente demonstra fuga e desprezo àquilo que nos torna mais humanos.

O medo de ter emoções e sentimentos, sim, é uma fraqueza. Significa que o sujeito que os evita não sabe ou não consegue ter equilíbrio deles. E por não conseguir, faz de tudo para forçar uma racionalidade insensível. 

Aquele que é de fato forte não esconde suas emoções, as encara e consegue harmonizá-las com sua razão. Mas, em geral, o que ocorre é uma camuflagem da fraqueza, criando uma imagem de indiferença, intelectualidade ou pragmatismo.

Essa camuflagem decai novamente no que chamamos de EGO, uma falsa identidade que vive meramente de respeitabilidade e prazeres (não só sensoriais, mas principalmente psicológicos).


Não há nada de errado em querermos ter uma vida boa, digna e confortável, materialmente falando. Assim como não há nada de errado em querermos apoio emocional e afetivo. Tudo isso entra numa esfera natural de ser um humano... O problema está em acreditar que poder e força estão relacionados em "vencer no mundo", ser alguém de prestígio, status, fama, reputação ou riqueza monetária. 

No entanto, eu digo que a maior força, o maior poder e a maior riqueza estão em SERMOS CADA VEZ MAIS QUEM SOMOS DE VERDADE. E o que seria ser isso? 

Sermos quem somos de verdade é depender (ou se apoiar) CADA VEZ MENOS de nossa imagem, aquisições (materiais, emocionais e intelectuais) e externalidades em geral. É ter força de caráter, integridade, honra, dignidade de ser, ética, senso de justiça, equilíbrio, bom senso e HUMILDADE, independentemente do que está acontecendo ao nosso redor - seja um caos, uma escassez ou dificuldades. 

Ser forte nada tem a ver com ser racional, mas sim, em ser CONSCIENTE... pois pessoas racionalistas temos aos montes por aí que mais desagregam do que agregam. 

O super-humano (aquele que transcende o senso comum) não tem relação alguma em ser frio ou estrategista, e sim, em ser empático, sensível e justo ao mesmo tempo. O super-humano é aquele que age pelo Coração, sabendo a hora de dar a mão e a hora de dar limites. (E ser Coração não tem relação com sentimentalismos, mas sim, em ser Alma).

Ou seja, ser um super-humano é ter SABEDORIA, e não, saberes... é ser EMPÁTICO, e não, codependente... é ser HUMILDE, não, submisso... é ser CORAJOSO, não, imprudente... é ser AMOROSO, não, carente... é ter MORAL, não, ser moralista... é ter HONRA, não, orgulho... é SER, não, ego. 

O ego sempre age através de calculismos, de revanches, de ser bem-visto, de ser aplaudido - tudo para fugir da sensação de não pertencimento, invisibilidade e desaprovação. Ao mesmo tempo que corre desesperadamente atrás de prazeres e pseudosseguranças.

Ele não entende e desconhece completamente a segurança e o amor-próprio que independe de qualquer externalidade, bajulações ou qualquer fator quantitativo. Já, o Ser é segurança e amor simplesmente por ser... simplesmente por se manifestar sem o controle do ego.

Contudo, isso também não significa que devamos desprezar o nosso ego, pois ele é uma ferramenta importante para a experiência neste mundo. Tê-lo como via ou instrumento é uma coisa... tê-lo como nosso controlador ou ditador, é outra coisa - e isso é o que ele é, quando estamos inconscientes do que somos. 

E ainda que esse "avatar" seja uma construção de experiências, crenças, condicionamentos sociais e culturais, étnicos e raciais... ainda que seja um conjunto de conceitos e pensamentos baseados em tudo isso... é através dele que a Consciência que somos deixa um legado e realiza o seu propósito maior no "jogo da vida". Ter consciência de que somos jogadores é diferente de sermos jogados por quem tem controle do jogo. 

Por mais que as pessoas achem ser autênticas, elas estão se identificando com seus "avatares" e executando a programação padrão comum (que alguém não bem intencionado criou). No pior dos casos, estão vivendo como NPCs, sem o mínimo de autonomia de pensamento. 

Despertar o Ser em nós é sacrificar o desejo e a obsessão de sermos o que a sociedade considera valoroso. Não quer dizer que não possamos ter status, autoridade, especialidade, fama, beleza ou posses... mas, quer dizer que essas coisas não nos definirão como seres humanos essenciais, não serão nossas prioridades, pois nosso valor real está naquilo que é eterno; não, em transitoriedades.

Não existe força e poder em um ego racionalista... e nem mesmo em um ego espiritualista, casto ou asceta. A verdadeira força do super-humano só pode vir da Consciência que Somos. 

Mas para que sejamos a Consciência que Somos, o ego, necessariamente, precisa cansar de controlar, devolvendo o cargo de autoridade a quem de fato pertence...

E a quem sabe realmente liderar.



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