Chega de "cricricri"


É engraçado ver como as pessoas em geral tentam ser "fortes" psicologicamente.

Olham para suas dores, seus traumas, seus problemas, seus momentos negativos e dizem a si mesmas: "Pára de fazer "mimimi! Você está se vitimizando! Se fazendo de coitadinho(a)!"

E assim, ilusoriamente, mudam seu estado de espírito, achando ter superado a tristeza ou a insatisfação.

Só que não.

O pior autoengano é achar que o seu mero querer racional irá mudar seus momentos de sofrimento. Isso porque é o seu Ego que quer ser perfeito, estar bem 24 horas por dia, ser infalível, ser poderoso o tempo todo.

Ninguém sai de seu estado de vitimismo (ou de se achar que os outros é quem tem culpa) se julgando e se censurando a cada dor vivida. Isso é um autoflagelo!

Dizer para si mesmo(a) que só você é responsável pelo o que está vivendo, que ninguém teve influência na sua vida, que toda a sua situação foi você que escolheu, é de uma desonestidade cruel tremenda.

A sua saída do papel de vitimismo só pode DE VERDADE ocorrer com o sentimento de Amor ou Compaixão por si mesmo.

Mas infelizmente as pessoas acham que sentir amor ou compaixão por si mesmo é autopiedade - e culpar o mundo pelas suas mazelas.


Não. Compaixão por si mesmo é COMPREENDER que você passou por dificuldades na vida, não teve apoio, carinho, valor quando criança, teve traumas inevitáveis durante a jornada, e que portanto NÃO PÔDE FAZER NADA, por estar inconsciente e imaturo. 

E que agora, consciente, você vai ter que limpar toda a sujeira, que você e os outros (sim!) fizeram na sua vida. 

Assim como não devemos culpar ninguém pelos erros que cometeram conosco, exatamente porque NÃO SABIAM O QUE ESTAVAM FAZENDO", também não devemos NOS CULPAR pelo mesmo motivo. Me diz: como culpar um cego por não enxergar?

Há de se saber separar um erro por falhas (ou condicionamento) e um erro por más intenções (falta de caráter). E mesmo que seja por más intenções, há de se considerar que um ser humano tem toda a possibilidade de arrependimento.

Essa cobrança exigente de ser forte e poderoso o tempo todo é antinatural. E que se não estivermos atentos, caímos nas cobranças que outras pessoas e a sociedade nos fazem.

Agradeça por você ter momentos de infelicidade, dor, tristeza... pois garanto que se você fosse autossuficiente, cheio de entusiasmo e autoconfiança 24 hs por dia, você seria a pessoas mais arrogante, prepotente e vaidosa do mundo - que é muito diferente de se ter PODER VERDADEIRO.

As pessoas em geral infelizmente aprenderam a repudiar o lado negativo de si mesmas. E assim, ao verem alguns aceitarem seu estado negativo como algo natural, julgam-nos de "vitimistas", sem entenderem que é na aceitação que nos desidentificamos da mente. É daí que nasce a Compaixão por si e pelas pessoas - simultaneamente. 


Para ser forte e deixar o papel de vítima, é preciso se compreender no mais âmago do seu ser; entender que a vida não é um mar de rosas. Não se condenar; não querer ser um superman ou uma mulher-maravilha constantemente (quando não dá para ser). Lembre-se: heróis também possuem pontos fracos - por isso são heróis. 

A razão (mente) irá lhe exigir força e tentará mudar seu estado de "água para o vinho". Exigirá força à força... (Irônico...).

Ter compaixão por si mesmo também não significa achar que os outros lhe devem algo. Uma coisa é enxergar os fatos: fui abusado(a), fui negligenciado(a), fui torturado(a), fui desprezado(a)... Outra é sentir ódio, rancor e ressentimento por essas coisas pelo resto da vida... aí, sim, o vitimismo.

E ainda que os traumas na sua vida não estejam superados, devemos aceitar a raiva (ou outra emoção indesejável) que sentimos, porém agora conscientes dela. Essa é a diferença. Olhar para as emoções que sentimos, sem julgamento, até que elas desapareçam, por não mais alimentá-las. Mas, o que em geral se faz é forçar a barra, tentar esquecer, dizer que é "mimimi", que está com pena de si. Isso não resolve, pelo contrário: só reforça ainda mais o conflito interno e a aversão.

Ter Poder Pessoal é olhar para si e para as coisas externas com neutralidade e SE RESPEITAR; é enxergar os fatos, sem qualquer julgamento. E ainda que saibamos que algo é antinatural ou que não deveria estar em nós, é ilusão achar que iremos mudar do "ruim" para o "bom" só porque a razão quer.

Como Consciência que somos, sabemos que não estamos sendo naturais, que há algo de errado conosco e com o mundo. Porém, para que possamos TRANSCENDER o que é falso em nós, há de se COMPREENDER e ter COMPAIXÃO REAL por si mesmo.

Muitos criticam as religiões, dizendo que são condenatórias, que querem lhe culpar de tudo... No entanto, mesmo a mente não-religiosa continua sua autocondenação, sem perceber sua própria exigência consigo.

Querer mudar de um antônimo a outro (de negativo para positivo) é cair ainda na DUALIDADE. E para sair da dualidade é preciso alcançar o estado neutro em si. (Estudem Krishnamurti).

Ontem mesmo estava, eu, revendo minha vida. Comecei a me julgar por mil motivos. Como se o caminho que eu tivesse escolhido fosse um "erro" e que eu deveria ter feito diferente... que eu deveria ter me tornado uma pessoa "respeitável" socialmente e blá blá blá...

Mas por quê??

Por que eu deveria ter sido assim e não "assado"?

Será que se eu tivesse escolhido o caminho convencional, tradicional, normal, eu seria EU MESMA? Teria despertado a Consciência? Ou seria mais uma cidadã admirada, porém ínfima em lucidez e sentido de vida?

Não... Eu só sou eu agora, simplesmente porque percorri caminhos não percorridos. Simplesmente porque escolhi o incerto, a vida mais medíocre do mundo, para poder despertar a potência que sou hoje.

Era preciso eu sentir na pele a vida mecanizada, sem sentido, sem valor, sem identidade, para ter uma crise existencial "fatal". Graças a minha vidinha pífia, hoje sou EU DE VERDADE, seguindo a minha lenda pessoal. 

Não há rancor, não há mágoa... Há constatação de que foi preciso ser como foi (e ponto final).

Sua mente quer que você sinta culpa; o mundo quer que você sinta culpa.

Não importa sua situação, sua idade, ou o que você está fazendo no momento... se você despertou para aquilo que você é, já valeu a pena ter nascido e vivido.

O que vale agora é o que vai ser daqui em diante com o que foi desperto em você: ser mais um como os outros, ou ser alguém único.

Você é único, sua vida é única. 

Menos autocrítica e mais compreensão, por favor.

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